SALVAR VIDAS, ABRIGAR AS PESSOAS E RECONSTRUIR O RS

Ana Maria Cemin – Jornalista

Conversei nessa semana com uma vereadora de Porto Alegre que arregaçou as mangas e foi para a água salvar vidas. Falamos sobre abrigos de Porto Alegre, a profilaxia para doenças decorrentes da enchente e sobre o Pacto Federativo que precisa ser repensado para que o RS possa se recuperar. Do total de impostos que os gaúchos mandamos para Basília, voltam para nós pouco mais de 20%. A União engole os nossos recursos e agora, mais do que nunca, precisamos deles para a reconstrução.

A Comandante Nádia, do PL, pegou junto no salvamento dos alagados de Porto Alegre desde o primeiro dia. Ela tem 28 anos de atuação na linha de frente da Brigada Militar e está habituada a enfrentar desafios. No dia 3 de maio, Nádia foi para os botes resgatar pessoas e animais, priorizando a vida. Logo em seguida, passou a percorreu os abrigos das pessoas resgatadas e procura fazer um trabalho humanitário.

Ela relata que no auge da enchente de maio, Porto Alegre acolheu 14.632 pessoas em 163 abrigos cadastrados pelo poder público municipal. Nesse início de junho, um mês depois, 8.600 pessoas permanecem alojadas em 116 abrigos.

Todas essas pessoas receberam colchões, travesseiros, lençóis, cobertores, medicação e alimentação. As refeições são servidas em forma de marmita ou de insumos, dependendo se o abrigo conta com cozinha industrial ou não.

“Esse número de abrigados é apenas a ponta do iceberg, pois muitos alagados saíram de Porto Alegre ou foram para casa de amigos e familiares. Isso a gente sabe pelo número de famílias credenciadas em Porto Alegre para receber o auxílio federal de R$ 5.100,00 em parcela única. Nós contamos com 61.290 famílias aptas a receberem essa ajuda, só na capital do RS”, informa. 

LIMPEZA E O RISCO DA LEPTOSPIROSE

 Porto Alegre vive o pós-tragédia que é a limpeza, que também é uma etapa delicada pelo risco de contaminação com o lodo que ficou impregnado nas casas e empresas.

“Na terça-feira, dia 5 de junho, tivemos uma reunião com o Secretário Municipal de Saúde, Fernando Ritter, e com o grupo Médicos pela Vida para tratar das medidas preventivas. A leptospirose é uma doença que pode ser mais mortal do que o Covid e leva de um a 30 dias para incubar. As pessoas que participaram dos resgates tiveram a profilaxia, mas agora temos que nos preocupar com as pessoas que estão voltando para suas casas e não passaram pelos abrigos cadastrados. A leptospirose pode ser contraída por algum ferimento, mas mesmo a pele íntegra e as mucosas podem ser penetradas pela bactéria leptospira”, explica a Comandante Nádia.  

PREVENIR O COLAPSO DA SAÚDE

Na reunião, ficou claro que o caminho para evitar o colapso da saúde a informação é fundamental, além de treinar e orientar os profissionais de saúde que estão na linha de frente. “A qualquer sintoma, a população deve buscar os postos de saúde para receber medicação. A pessoa infectada apresenta febre alta, olhos amarelados, dor nas panturrilhas e vermelhidão na pele. As unidades estão prontas para atender”, avisa.

“Em maio, registramos em Porto Alegre 971 suspeitas da doença e dez pessoas foram hospitalizadas, sendo que duas vieram a óbito. Essas pessoas foram tratadas imediatamente e, hoje, temos condições para atender a população nas 120 unidades de saúde que estão funcionando normalmente, pois somente 14 permanecem fechadas por terem sido inundadas e o ambiente ainda não está adequado ao uso. Todas as unidades estão orientadas a aplicar o protocolo preventivo”, informa.

Além das unidades, também a Central de Distribuição de Remédios ficou debaixo d’água, com registro de perda de mais de R$ 6 milhões entre medicamentos e insumos. Uma força-tarefa foi criada em conjunto com AMRIGS, CREMERS e Faculdade de Farmácia da UFRGS para receber doações de medicamentos de outros estados para recompor os estoques e garantir o atendimento à população. No final do mês de maio, a Central voltou a funcionar normalmente.

CÂMARA DE POA APROVA ESTADIA SOLIDÁRIA

Todos os moradores de Porto Alegre que foram afetados pela enchente, e não voltaram para casa por falta de condições de habitabilidade, podem solicitar o auxílio de estadia solidária. “A Câmara de Vereadores aprovou o valor de R$ 1.000,00 por família e o Governo do Estado se comprometeu a complementar com mais R$ 400,00”, informa a Comandante Nádia.

Na visão da vereadora, o Rio Grande do Sul precisa dos recursos que envia para a União para se reeguer. É o momento de rever o Pacto Federativo.

Comprovada a situação, as famílias poderão receber essa ajuda mensal por até um ano, perfazendo um total de ajuda de R$ 16.800,00 por família. De acordo com a Comandante Nádia, as 61.290 famílias cadastradas para receber o auxílio federal têm potencial de receber essa ajuda também. “É dinheiro vivo na mão da pessoa, que é usado quando a pessoa está na casa do parente, na casa de um amigo, para auxiliar na divisão dos custos daquela moradia.

COMO RECUPERAR O RIO GRANDE DO SUL?

De todo valor que o Rio Grande do Sul aporta para Brasília apenas uma parte volta para nós. No ano de 2023, saiu do RS R$ 57,4 bilhões em impostos federais e voltou em investimentos para o nosso estado apenas R$ 13,2 bilhões. Ou seja, nem 23% do que enviamos retornou. Precisamos que Brasília não busque os tributos federais para que o povo gaúcho possa se reerguer”, defende a vereadora. “No ano passado tivemos enchente em Porto Alegre e o Governo Federal prometeu R$ 500 milhões para recuperarmos a infraestrutura que ficou comprometida. Até agora chegou apenas R$ 300 mil. A melhor forma é rever o pacto federativo e cuidarmos no nosso Estado”, conclui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *