
Ana Maria Cemin – 13/04/2025
Desde o ano passado, centenas de brasileiros que estiveram na manifestação do 8 de janeiro de 2023 se refugiaram na Argentina para evitar o retorno ao cárcere, por crimes que eles não cometeram. Estas pessoas estão afastadas de suas vidas familiares e profissionais, sem recursos para viver com dignidade e com receio de serem presas a qualquer momento.
Cinco brasileiros foram recolhidos ao presídio de Ezeiza, na Argentina, e vivem na prisão desde o final do ano passado. Reunidos, escreveram uma carta aos parlamentares brasileiros pedindo para que formem uma comitiva e os visitem no seu exílio. A carta que segue chegou às minhas mãos nessa noite de 13 de abril, e compartilho com você.
“Às Senhoras e Senhores Parlamentares do Brasil,
Nós, mais de 250 refugiados brasileiros na Argentina, viemos por meio desta carta fazer um pedido urgente de ajuda. Desde março de 2024, quando os primeiros de nós chegaram a este país buscando abrigo, temos vivido uma realidade de medo, incerteza e abandono.
Estamos espalhados por toda Argentina, em Buenos Aires, Misiones, Córdoba, Santa Fé e Mendoza, tentando sobreviver em meio a um cenário desconhecido, sem recursos e sem qualquer tipo de segurança. Nossa situação é agravada pelo fato de que 62 de nós têm pedidos de extradição feitos pela Justiça brasileira, e cinco estão presos em território argentino há mais de quatro meses.
Esses patriotas vivem sob condições precárias, afastados de suas famílias, sem previsão de julgamento justo. E cadê os direitos humanos, a ONU que deveria nos assegurar sob a lei de Genebra que garante proteção… Todos sem exceção que aqui estão procuraram o CONARE órgão responsável pelos pedidos de refúgio e mantemos nossa precária sempre atualizada, isso não deveria estar acontecendo.
O que estamos enfrentando não é apenas uma perseguição política, mas um sofrimento psicológico devastador. O medo nos consome: o medo do amanhã, da injustiça, da incerteza sobre o futuro. Sentimos o peso do desconhecido, a dificuldade de comunicação em um país onde o idioma é uma barreira. Além disso, sofremos com o medo financeiro, pois tivemos todas as nossas contas bloqueadas no Brasil, impedindo qualquer possibilidade de sustento. Chegamos aqui sem planejamento, sem recursos, sem perspectivas.
Senhores parlamentares, pedimos que se mobilizem e formem uma comitiva oficial para vir à Argentina e interceder junto aos parlamentares argentinos. Precisamos de uma ponte entre os dois países para garantir que a verdade e a justiça prevaleçam. Já são quatro meses de angústia para aqueles que estão presos e uma eternidade de medo para os demais. Não sabemos o que nos espera.
Sejam nossa voz onde ela já não consegue mais ecoar. Não pedimos privilégios, mas justiça. Não queremos impunidade, mas o direito a um processo digno e equilibrado. Não deixem que a injustiça brasileira atravesse a fronteira..
Estamos há meses longe de tudo e de todos. O tempo está se esgotando, e com ele, a esperança.
O desespero já tomou conta de muitos de nós. Conversas sobre suicídio, entrega voluntária e desistência da vida têm sido constantes. Estamos exaustos, fragilizados, sem rumo. Não podemos mais esperar.
Este é um pedido de socorro. Precisamos de parlamentares brasileiros que tenham coragem de olhar para nós, ouvir nossas vozes e agir. Estamos pedindo justiça. Estamos pedindo humanidade.
Que a nossa dor não seja ignorada.
Atenciosamente,
Os Refugiados Brasileiros na Argentina
1 comentário