Ana Maria Cemin – 16/09/2024
O ministro Alexandre de Moraes autorizou a transferência do preso político Claudinei Pego da Silva, 44 anos, do Presídio Papuda, em Brasília, para a Penitenciária de Contagem 1 – Nelson Hungria, em Minas Gerais. A mudança foi solicitada pela família para que ele receba visitas mais regulares da esposa Priscila Kellen Oliveira, 33 anos, que reside em Belo Horizonte, e dos filhos.
Ele foi condenado a 16 anos e meio de prisão e desde 27 de fevereiro desse ano a sua sentença teve o trânsito em julgado. Ou seja, ele se encontra cumprindo sua pena junto com presos comuns.
“Por ele estar muito longe, eu visitava uma vez ao mês. Porém com o recambiamento ficará mais fácil estar com ele, porque o município de Contagem fica a meia hora de onde residimos”, diz Priscila. Ainda não há uma previsão de quando será feita a transferência do preso político.
O casal tem um filho pequeno, Gabriel, 5 anos, que hoje não vê o pai e nem é sustentado por ele, uma vez que Claudinei está preso, sem possibilidade de trabalho e não recebe auxílio reclusão.
“Desde que tudo isso começou eu passei a morar com a minha mãe em Belo Horizonte e trabalho num restaurante para nos manter. Com a minha renda ficou muito difícil ir a Brasília com mais frequência, mesmo sabendo da necessidade que ele tem de visitas”, lamenta.
Além de Gabriel, Claudinei tem três filhas, sendo duas delas menores também. Ele era o provedor da família com o trabalho em sua oficina mecânica, que foi fechada após a sua prisão. Claudinei tem o compromisso de pagar a pensão aos filhos menores, além de prover o sustento de Gabriel. Questionada sobre isso, a advogada Carolina Siebra diz que a família está vivendo de doações diante da situação financeira crítica.
Priscila diz que o marido estava ainda mais magro da última vez que o viu, além de apresentar um quadro de ansiedade e falar muito da vontade de voltar para casa. Claudinei adquiriu uma depressão profunda dentro do Papuda. Entrou com 115 kg e no final do ano estava 42 kg mais magro.
“Em visitas anteriores, Claudinei estava com pensamentos ruins ainda”, referindo-se à tentativa de suicídio do ano passado.
TENTATIVA DE SUICÍDIO NO ANO PASSADO
Em 19 de dezembro do ano passado, Claudinei foi internado na Ala de Tratamento Psiquiátrico por tentar suicídio dentro do Presídio Papuda. Preso em 8 de janeiro por estar se abrigando dentro de um dos prédios da República, ele não suportou a prisão e as acusações.
A tentativa de suicídio de Claudinei ocorreu por volta das 10h40, após ele ser transferido para uma área isolada do presídio, chamada “corró”. Conforme a esposa, ele colocou a camiseta ao redor do pescoço e armou uma forca improvisada, mas foi impedido por um policial que conseguiu abrir a porta a tempo, diante dos gritos de outra policial que não estava conseguindo socorrer sozinha.
“Eu só queria que esse pesadelo terminasse e que eu pudesse ter uma vida junto com meu esposo e filho. É muito triste ver o meu filho sem pai presente. Claudinei não quebrou nada. Foi apenas fazer o que sempre fez aqui em Minas, ou seja, participar de uma manifestação. Nada mais”, apela Priscila.
O QUE DIZ DRA. CAROLINA
“Meu cliente foi para Brasília apenas para acompanhar um amigo. Na hora do ocorrido, ele estava na plataforma do Shopping Conjunto Nacional. Quando soube das bombas, pensou que o amigo poderia se machucar. Foi até lá no intuito de chamar ele para irem embora, não o encontrou e decidiu se abrigar num prédio”, conclui, relatando o que levou Claudinei ao presídio e pena de 16 anos e meio.
“Depois de passar alguns meses na ala psiquiátrica, Claudinei voltou para o Papuda e, recentemente, me pediu para ser transferido para Minas Gerais, porque a família dele passa por uma situação financeira delicada. Fica muito custoso para eles viajarem a Brasília. Ele tem um filho e duas filhas menores, além de uma mais velha. Ele pediu a transferência exatamente por isso, a Procuradoria Geral da República se manifestou favorável e, graças a Deus, o ministro entendeu pelo recambiamento”, conclui a advogada.