
O pai da presa política que nem mesmo foi julgada e está no cárcere por quase 500 dias, Holdridge dos Reis Soares, escreveu uma carta narrando toda a situação de dor que ela e a família vivem pela injustiça cometida contra ela. Publicamos várias matérias no site sobre Yette, que você poderá procurar pelo nome. Leia agora o pai da dentista de Palmas, TO, uma perseguida política do Brasil do Século XXI.
“Excelências, Senhoras e Senhores,
Falo hoje não como jurista, não como político, mas como pai. Um pai que viu a vida de sua filha ser devastada por um processo injusto, marcado por acusações frágeis e por uma narrativa que nunca se sustentou em fatos concretos.
Minha filha, Yette Soares Nogueira, é uma mulher trabalhadora, servidora pública, mãe dedicada e filha presente. Sempre viveu para o trabalho, para a família e para cuidar de seus pais idosos. Mas, desde que foi envolvida nos processos decorrentes do dia 8 de janeiro, ela se transformou em vítima de um verdadeiro calvário judicial.
A Yette foi acusada de financiar transporte para os atos daquele dia. Contudo, não existe prova real que a ligue a isso. Não há imagem, não há mensagem, não há documento que demonstre sua participação em vandalismo ou em qualquer plano ilícito. Mesmo assim, ela foi submetida a uma prisão desnecessária e a medidas restritivas que dilaceraram nossa família.
Vi minha filha passar dias e noites sem dormir, marcada pelo peso de uma acusação que não condizia com sua vida. Vi sua saúde física e mental se deteriorar: crises de pânico, depressão profunda, problemas cardíacos agravados. Vi uma mulher antes cheia de vida ser transformada em alguém fragilizado, vivendo com medo e ansiedade.
Senhores, foram meses de angústia. O bloqueio de sua conta-salário a impediu de sustentar a si mesma e de contribuir para a manutenção da casa. Dependente de seu trabalho na prefeitura como odontóloga, foi proibida de exercer sua profissão, afastada da função pela qual sempre se dedicou com zelo. Uma decisão judicial que a retirou do serviço público deixou não só ela, mas também a comunidade desassistida.
A cada recurso negado, a cada pedido ignorado, o sentimento era de que a Justiça não queria ouvir a verdade. Como pai, tive que assistir minha filha lutar não apenas contra um processo, mas contra a desesperança.
Yette não foi flagrada em vandalismo. Não foi filmada dentro de prédios públicos. Não liderou movimentos. Sua única ligação com esse processo foi um apontamento genérico, sem lastro probatório. Mesmo assim, sua vida foi virada do avesso.
Hoje, quando olho para minha filha, vejo alguém injustiçada, mas também vejo uma mulher resiliente, que ainda acredita que a Justiça pode prevalecer. E, como pai, venho aqui levantar a voz para que esse tribunal, esse país e essa sociedade compreendam: o que se fez contra Yette não foi apenas um processo judicial, foi uma violação de sua dignidade, de seus direitos mais básicos e da paz de nossa família.
Peço, em nome de um pai que só deseja ver sua filha viver em liberdade e dignidade, que a verdade seja finalmente reconhecida. Que se restabeleça a justiça. Que se permita à minha filha recomeçar sua vida, retomar seu trabalho e cuidar da sua saúde e da sua família.
Porque, Senhoras e Senhores, nenhum pai deveria ver sua filha ser destruída por acusações sem provas. E nenhuma mulher deveria carregar por tanto tempo o peso de uma injustiça.
Muito obrigado.”
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