Ana Maria Cemin – Jornalista – 10/07/2024
A maternidade de Juliane Mayumi Onaya, 40 anos, trouxe inúmeras alegrias e, também, uma tristeza imensa causada pela ausência do pai da sua filha Lyz, de seis meses, nascida no Natal do ano passado.
O pai da bebê é o patriota Marco Alexandre Machado de Araújo, 54 anos, morador de Uberlândia, MG. Ele foi preso pela Polícia Federal na 10ª fase da Operação Lesa Pátria, em abril do ano passado, por determinação do ministro Alexandre de Moraes. Ele está há 15 meses no cárcere, sem que o Ministério Público tenha feito denúncia contra ele.
Está esquecido na penitenciária Papuda, em Brasília, e muito doente. Não foi acusado, julgado ou condenado. Absolutamente nada pesa contra ele para estar no cárcere.
“Meu marido sempre foi da política, mas nunca teve um posicionamento radical. Durante as eleições passadas, ele fez campanha no “Point Bolsonaro”, aqui em Uberlândia. Com o fim das eleições, foi criado o acampamento em frente ao exército e nós íamos juntos para participar das atividades do movimento popular, e eu fui com ele duas vezes no QG de Brasília, assim como a mãe dele também foi. O ambiente do movimento era bom, com estrutura para alimentação e local de oração. Muito organizado”, relata a esposa.
No início de 2023, o marido foi sozinho para Brasília e contou para a esposa que foi até um dos prédios da República para chamar duas amigas que tinham entrado no local, mas logo saiu e foi ajudar as pessoas do lado de fora a voltar para casa. “Me falou que ajudou muita gente de Uberlândia que estava naquele fogo cruzado de bombas de efeito moral e lacrimogênio, além dos tiros de balas de borracha”, narra.
Quando Marco Alexandre retornou para Uberlândia, ele continuou atuando na política e foi um grande incentivador da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro. A liberdade dele terminou com a chegada da polícia em sua casa. “Os policiais federais pediram por ele e eu informei que ele estava no trabalho, pois ele faz serviço de segurança”, diz Juliane.
EX-POLICIAL ESTÁ PRESO EM BRASÍLIA
Antes de ser preso, Marco Alexandre trabalhava como segurança e fazia Uber. Devido à ordem de prisão expedida por Moraes, ele optou por ser entregar em Brasília, porque seria muito arriscado uma prisão em Uberlândia, pelo fato de ser ex-policial.
Desde então, Juliane tem se deslocado até a capital federal para levar o cobal (produtos liberados para presos como itens de higiene, bolachas, castanhas e coisas do gênero) a cada 15 dias, no Presídio Papuda. Diferente de criminosos presos, ele não recebeu nenhuma ajuda nesse tempo todo em que está sob a tutela do Estado Brasileiro. Então a esposa reserva a cada ida cerca de R$ 700,00 para essas despesas, incluindo ida e volta no mesmo dia de carro.
Com o nascimento da filha, a esposa ficou alguns meses sem visitar, e foi então que Marco surtou por estar desesperado para estar junto com a esposa e filha. “Ele foi encaminhado para uma ala psiquiátrica e só a muito custo conseguimos tirar ele de lá. Voltou para o cárcere comum”, relata a esposa.
Ao voltar a vê-lo em março desse ano, quando foi apresentar a pequena Lyz, Juliane ficou apavorada com o estado do marido. “Ele parecia outra pessoa, totalmente transformado. Falava de forma incompreensível e estava muito magro. Ele não tinha forças para segurar a filha no colo. Até hoje segue tendo crises de pânico seguidamente lá dentro”, diz a esposa, alarmada com a situação.
DEFESA DE MÃOS AMARRADAS
O advogado Geovane Veras diz que Marco Alexandre teve a sua prisão preventiva decretada pelo ministro ainda em 09.03.2023, e o seu cliente, acreditando na justiça, se apresentou voluntariamente na Polícia Federal no dia 20.04.2023, sendo em seguida encaminhado para a Papuda.
“Está preso sem Ação Penal em curso, cumprindo antecipadamente uma pena sem condenação. Em função das confusões mentais, Marco Alexandre foi encaminhado para Ala Psiquiatra da Colmeia, onde ficou por alguns meses, quase chegando à loucura por ter sido tratado com louco, com fortes dosagens de drogas. Em função desse quadro clínico, requeremos o seu retorno para a Papuda. O Laudo Pericial concluiu que ele tem Transtorno Esquizofrênico e precisa ser cuidado, porém o psiquiatra entende que ele pode continuar preso, mesmo com esse grave quadro clínico”, informa o advogado.
“Ele é pai de três filhos maiores e tem uma filha recém-nascida com quem não tem contato por estar preso. Trata-se de uma verdadeira perseguição e injustiça que o ministro vem cometendo, como de costume”, conclui.
A situação do Marco Alexandre é tão dramática quanto a da Débora em SP, da Eliene no MA e tantos outros presos nas infinitas fases da Lesa Pátria. Minha total solidariedade à esposa a Juliane e demais familiares atingidos brutalmente por essas atitudes covardes e injustas.