
Ana Maria Cemin – 6/06/2025
Gisele Alves Guedes de Moraes, 38 anos, mãe de sete (cinco menores) foi condenada a 14 anos pelo ministro Alexandre de Moraes hoje, 6 de junho. Vivendo o luto do pai José Narciso, falecido essa semana por um câncer que o consumiu lentamente, ela reúne as forças possíveis para enfrentar o Estado Brasileiro. É acusada de algo que não fez, não participou de um Golpe de Estado Armado, mas se depender do voto de Alexandre de Moraes, ela já esta condenada a 14 anos. O julgamento só encerra na sexta-feira que vem.

Ela é mãe de Ágatha, 1 ano; Fernando, 4 anos; Igor, 9 anos; Esther, 13 anos; Ana, 16 anos; João, 18 anos; e Jhuliane, 21 anos.
Não bastasse isso, o Dr. Hélio Júnior, que assumiu o caso da Gisele de forma pro bono, ainda identificou mais um agravante: ela tem uma patologia degenerativa e incapacitante (veja laudo) e de forma alguma conseguirá sobreviver em cárcere, pelas condições insalubres das celas. Seja pelo fato de ser mãe de sete ou por não ter saúde e necessitar de atendimento especial, a defesa já entrou com pedido de prisão domiciliar.
SURPREENDIDA PELA SITUAÇÃO
Gisele nunca foi presa, atualmente vive do seu trabalho como cantora e, durante o acampamento dos patriotas em Brasília em final de 2022, por ser moradora da cidade, do bairro Planaltina, passou mais de mês como vendedora em uma das barracas. Ganhou um dinheiro extra, muito bem-vindo para quem tem uma família grande para sustentar, até porque não receber auxílio de governo e as pensões dos filhos naquele momento estavam atrasadas. Na loja vendia camisetas, casacos, barraca, material para camping etc.

“Um amigo meu que é músico me disse que estavam pagando uma boa comissão e resolvi ser vendedora por um tempo”, conta e continua: “Como a minha mãe mora na esquina e meus dois filhos mais velhos estavam em casa então passei novembro até a primeira quinzena de dezembro de 2022 como vendedora. A barraca tinha autorização do Exército para funcionar, então estava tudo ok”.

“A loja onde trabalhei no QG de Brasília tinha fechado ainda em 2022, porque o Exército não autorizou mais o seu funcionamento. E no dia 8.01.2023, quando ocorreram as depredações dos prédios, estive no QG para me despedir do pessoal conhecido que ainda estava acampado. Estávamos na fila do almoço e passou uma turma chamando para a passeata até a Praça dos Três Poderes. A gente foi junto até a Esplanada e até aí estava tudo bem, com as pessoas marchando, cantando hino e carregando bandeiras do Brasil. Algo absolutamente normal. Eu filmei o que vi na Praça, não entrei em prédio, não invadi e muito menos quebrei. Como jornalista que também sou, registrar aqueles fatos era algo importante, mas quando o clima esquentou e que chegaram helicópteros que jogavam bombas sobre os manifestantes fui embora; peguei um Uber e voltei para casa. Naquele dia eu vestia uma blusa de paraquedista que eu vendia na loja lá no QG, preta, com símbolo de paraquedismo. Até isso foi motivo de questionamento pela polícia”, relata.

“A primeira vez que ouvi falar do meu envolvimento com os atos do 8 de janeiro foi em março do ano passado (2024). Estava em casa, amamentando a minha filha que não tinha dois meses ainda, e a Polícia Federal bateu no meu portão e disse que eu estava sendo intimada para prestar esclarecimentos. Meu leite secou de imediato de tão nervosa que fiquei. O delegado da Polícia Federal me ouviu em 26.04.2024, por videochamada, e eu lembro porque era aniversário do meu filho que agora tem 9 anos. Nessa oitiva tive a impressão de que queriam realmente arrancar alguma informação para me incriminar. Eu falei exatamente o que aconteceu, não tenho nada para esconder e inclusive mandei os extratos bancários dos dias que estive trabalhando na loja do QG. Ou seja, comprovei que a minha presença era profissional, para trabalho, para ganho de sustento para a minha família. Depois disso recebi oficialmente o número do meu processo e fui atrás da Defensoria Pública da União, porque não tinha recursos para pagar um advogado de defesa. Era para eu ter participado da audiência de instrução em 14/11/2024, mas ela ocorreu somente em 18/11/2024, em videoconferência, quando passei pelo interrogatório que preparou o meu julgamento que iniciou hoje. Naquela ocasião, o defensor público pediu para que eu ficasse em silêncio, não falasse nada”, relata.


BALAIO DE PRESOS POLÍTICOS
Conforme dados do próprio STF, Gisele foi incluída como executora material dos atos de depredação do 8 de janeiro, e está entre as 461 denúncias oferecidas pela Procuradoria-Geral da República e recebidas pela Corte Suprema para julgamento. Para essas quase 500 pessoas (e o número só cresce), a pena na condenação em geral tem sido 14 e 17 anos.
Mas tem ainda outras 1.096 pessoas condenadas por crimes leves, recebendo penas de restrições de direitos. O Supremo se orgulha de ter analisado e decidido a vida destas 1.557 pessoas comuns.

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