Ana Maria Cemin – 23/10/2024
O coração de mãe não se engana. Maria Silvaneide Fernandes de Oliveira, 54 anos, sente que seu filho Matheus Fernandes Bomfim, 33 anos, conhecido por ser uma pessoa otimista, está profundamente abalado. Os quase dois anos dentro do Presídio Papuda consumiram o ânimo do rapaz que sempre teve uma palavra amiga para ajudar o outro a se erguer.
Em 8 de janeiro de 2023 ele entrou no presídio e nunca mais saiu. Assim como outros manifestantes, Matheus encontrou no Palácio do Planalto o refúgio no momento do ataque da polícia com bombas de efeito moral e tiros com bala de borrachas. A Praça dos Três Poderes virou um campo de guerra de uma hora para outra, com apenas um lado agredindo. O outro, acuado, seguia com suas Bíblias e orações.
LONGE DE CASA
Em dois anos, Silvaneide foi seis vezes ver o filho. Da última vez foi na semana passada e fazia um ano que não saia da longínqua Vitória da Conquista, BA, para encarar 18 horas de ônibus para ir até a capital federal e outras 18 horas para voltar.
Tudo custa e a Silvaneide recebe R$ 1.400,00 mensais como merendeira numa escola municipal. Desse valor ainda separa algum valor para ajudar com as necessidades da neta Valentina, de 10 anos, filha de Matheus.
Só de passagens dá R$ 800,00. Por sorte nunca precisou gastar com hospedagem, porque as pessoas que residem em Brasília acolhem os parentes dos presos políticos em suas casas. Há muita solidariedade, acredite! Conforme você aprofunda no tema, vai encontrando almas caridosas que fazem o bem sem querer reconhecimento.
SEM RENDA DENTRO DO PRESÍDIO
Matheus está preso todo esse tempo e não recebe ajuda reclusão, então os familiares precisam honrar com os compromissos da pequena Valentina enquanto ele permanece no cárcere. Como ele era Uber, não recolhia INSS, isso singnifica que não receberá ajuda no tempo em que ficar preso. Essa é a regra: não recolheu, não tem ajuda do governo enquanto você permanecer atrás das grades.
A pena dada para Matheus é de 16 anos e meio de prisão.
“Choro todos os dias, emagreci e não tenho fome. Só de pensar que o meu filho está dentro de um presídio, recebendo uma comida que é uma lavagem, que muitas vezes eles nem conseguem engolir aquilo, eu fico sem fome”, conta Silvaneide. O preso político diz que os petiscos que a mãe e outros patriotas que visitam ele no presídio levam são “iguarias”. Sem elas a fome seria ainda maior.
Na visita da semana passada, ela viu que Matheus está cansado e desesperançoso. Estar diante dele e sentir isso foi uma tortura para Silvaneide, que saiu chorando muito.
TIRO DE GUERRA DE VITÓRIA DA CONQUISTA
A família de Silvaneide nunca foi de política. Um dia o Matheus fez uma corrida até o TG de Guerra da Vitória da Conquista e conheceu o acampamento. Lá foi bem recebido, serviram algo para comer e fez amizades. “Isso mexeu com o meu filho e ele começou a frequentar em alguns momentos o acampamento. Disse para ele deixar para lá aquilo tudo e cuidar da vida dele, mas não adiantou”, conta a mãe.
Ele acabou conhecendo a família de Alessandra Rondon e Joelton Gusmão Oliveira, enamorou-se pela filha deles, a Agnes. Juntos foram para Brasília para a manifestação do início do ano passado. De lá nunca mais voltou.
PAI E FILHA AFASTADOS
A filha Valentina nunca mais viu o pai, nem mesmo por videochamada. Ela ficou doente, está sentindo muita falta do pai, pois eram muito unidos. “A nossa família procura estar com ela sempre que possível, aos finais de semana, e os meus outros dois filhos, o Vitor, 23 anos, e a Ana Clara, 20 anos, preenchem de alguma forma o vazio da ausência do pai. Mas não é a mesma coisa”, diz a vó da menina.
“A nossa esperança é a anistia. Eu lhe digo uma coisa: eu saio da Bahia com alegria no coração para ver o meu filho, mas quando volto é como se um pedaço de mim fosse arrancado. Dói demais!”, conclui.
É uma situação que ninguem imaginária passar, defender seus direitos de protestar e acabar atrás das grades por uma justiça falha. Ser condenado a 16 anos sem ao menos poder se defender ou responder em liberdade,conquanto muitos que roubam, se corrompem ou até matam em em liberdade.
Não sei oque dizer dessa nossa justiça ou melhor INJUSTIÇA