
Ana Maria Cemin – 13/08/2025
Recebi esse texto hoje à tarde e, a pedido, publico.
“Me chamo Viviane dos Santos, tenho 38 anos, sou mãe e trabalho desde os 14 anos. Fui para as ruas me manifestar assim que saiu o resultado das eleições em 2022. Para mim e para milhares de brasileiros, ficou bem clara a fraude nas eleições no Brasil. Participei do QG na cidade onde morava, em Florianópolis, SC. E também fui me manifestar em Brasília.
Estava presente no dia 08/01/2023 em Brasília. Fui para a manifestação na Praça dos Três Poderes, passei pela revista da Polícia Militar do Distrito Federal antes de adentrar a praça. Fui presa no Palácio do Planalto enquanto me abrigava das bombas e dos tiros de borracha. O material que foi encontrado comigo era uma garrafa de água e a bandeira do Brasil — essa era minha arma na manifestação.
Dentro do Palácio do Planalto, passamos por momentos de muita tensão. Várias bombas foram jogadas de helicóptero para dentro do prédio, onde achávamos que seria seguro, pois havia a presença dos soldados do Exército. O choque adentrou; os policiais estavam muito alterados para lidar com pessoas desarmadas e indefesas, com suas bandeiras, Bíblias e garrafas de água. Nos deram voz de prisão.
Havia uma mulher passando mal, e os policiais pediram que ela fosse à frente. Ali pensei que ela fosse ser liberada, mas, para mais tortura, ela foi agredida e arremessada ao chão. Fiquei muito indignada com o que vi e, sem pensar, eu disse para o policial: “Se é sangue que você quer…” e apontei para minha testa e disse em voz alta: “Atire aqui, atire em mim. Eu não vou bater continência para bandido como vocês estão fazendo. Me mata.” O policial se aproximou com a arma e apontou, mas chegou outro policial e o conteve.
Fomos algemados com enforca-gato. Chega a ser irônico, pois com tal violência que chegaram para nos deter e nos chamaram de terroristas, ser algemado com enforca-gato foi totalmente estranho. Fui revistada novamente, ainda dentro do Palácio do Planalto, e nada além da minha bandeira e da garrafa de água foi encontrado.
Fui direcionada para um ônibus onde havia demais patriotas, e um detalhe que me chamou atenção foi que, para um grupo de “terroristas”, como fomos chamados, só havia um policial no ônibus — e era o motorista. Fomos encaminhados para o IML e, de lá, levados para o presídio Colmeia, onde passei novamente por revista e depois fui direcionada a uma fila, onde éramos chamadas uma a uma para uma sala. O policial perguntava se éramos de direita ou esquerda, se havíamos participado de outras manifestações no passado. Eu, obviamente, disse que sou de direita e que não havia participado de manifestações anteriormente.
Fui direcionada à Ala D do presídio, onde, quando chegamos, havia muitos colchões novos nos aguardando. Ali fiquei sem contato com a família. Fui conseguir mandar um recado e ter advogado uma semana depois de já estar presa. Minha audiência de custódia foi depois de 11 dias. Tive a liberdade provisória negada e ali permaneci por 7 meses, com mais de 150 mulheres. Havia um banheiro com 3 sanitários, sendo que só funcionava um, dois chuveiros e uma torneira para lavar roupa e escovar os dentes. Era fila o dia todo.
Depois dos 7 meses, saiu meu alvará no dia 08/08/2023, e sai sob monitoramento eletrônico. Usei tornozeleira por 6 meses, até a data do meu julgamento e minha condenação. Sem surpresa para ninguém, minha sentença foi de 14 anos de prisão. Em pânico só de pensar que poderia voltar à prisão sem ter feito nada — nem filmagem, nem digital em nada, nem DNA — tomei a decisão de procurar refúgio político em outro país.
Minha condenação saiu em 24/02/2023 e, em março de 2023, cheguei à Argentina. Por aqui, as coisas não foram fáceis, mas só pelo fato de não voltar para a prisão já respirava aliviada. Tive muita dificuldade para encontrar trabalho por conta do idioma. Morei em muitos lugares, um mais degradante que o outro. O custo de vida é muito alto para quem não tem renda nenhuma e vive de favor. Já cheguei a morar em um quarto com outros 8 patriotas. Já tive minha casa inundada por uma tormenta, onde eu não tinha cama — era colchão no chão — e me alimentava por doações, quando elas chegavam às minhas mãos.
Hoje faz um ano e cinco meses que vivo nessa pátria que me acolheu. Consegui ver minha filha no fim do mês passado. Ela veio me ver. Não sabe como eu esperava para abraçá-la! Passou uma semana comigo. Esse foi o único contato que tive com um familiar durante todo esse tempo.
Estamos acompanhando o que está acontecendo no Brasil. Tantas descobertas dessa injustiça e nada se consegue fazer de concreto para reparar. Não temos a anistia e nem o anulamento do processo, que era o correto a ser feito. Nesse meio tempo, perdemos vidas — vidas que foram dispostas a lutar contra a corrupção, para que não houvesse esse comunismo que está tendo hoje no Brasil.
Lutamos por Deus, pátria, família e liberdade — e acabamos sem elas. Exceto Deus, que ninguém pode nos tirar.
Venho por meio deste depoimento pedir liberdade aos presos políticos do 08/01.
#AnistiaJá
O Brasil pede socorro…
Acorde, nação…
Hoje sou eu. Amanhã pode ser você!”
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