
Ana Maria Cemin – 10/04/2025
Graciêne Inêz é irmã de Marco Afonso Campos dos Santos, um aposentado de 62 anos que foi a Brasília na manifestação de 8 de janeiro de 2023. Nunca mais foi um homem livre!
Hoje cumpre pena de 14 anos de prisão na penitenciária de Divinópolis, MG, deixando a família enlutada por todos esses acontecimentos, até porque a índole de Santos sempre foi ilibada. A carta que segue é o desabafo de quem espera a justiça e discorda de todas as acusações atribuídas.
“Sou irmã do Marco Afonso, um aposentado de 62 anos da RFFSA, considerado idoso. Ele é um homem dedicado à família, um cristão sincero e ativo na Igreja Católica, onde atua como catequista e ministro da Eucaristia. Além disso, é um pai e filho exemplar; após a perda da esposa, ele criou sozinho os três filhos, desempenhando papéis tanto de pai quanto de mãe. Atualmente, os filhos têm as seguintes idades: a caçula tem 20 anos, o filho do meio tem 26 anos e o mais velho tem 31 anos. Recentemente, o filho mais velho se casou, mas o Marco Afonso não pôde participar integralmente da celebração, pois tinha um horário definido para estar em casa e estava preso a uma tornozeleira. Além disso, ele recebeu a notícia na prisão de que se tornará avô do primogênito, mas está sendo privado de usufruir esse momento tão importante na vida da família!

Marco Afonso apresenta diversas comorbidades, faz tratamento para a próstata, enfrenta graves problemas na coluna, tem dificuldades respiratórias e recentemente desenvolveu uma forte alergia cutânea devido à falta de higiene no local onde dorme. Além disso, Marco Afonso sofreu danos morais causados pela cobertura midiática sensacionalista da região, que denegriu a sua imagem e disseminou várias calúnias através de argumentos prejudiciais à sua pessoa. Esta situação levou as pessoas a julgarem-no sem qualquer fundamento. A nossa família, que já estava a passar por um momento difícil com a prisão do nosso irmão, agora também se vê afetada pelas injúrias e provocações dos outros.
Escrevo esta carta para denunciar a grave violação de direitos que Marco Afonso está sofrendo e para buscar apoio e justiça. Em 8 de janeiro de 2023, ele foi detido em Brasília enquanto participava de uma manifestação pacífica, tendo seus direitos à liberdade restringidos injustamente.
Pergunto: onde estão as imagens que ele cometeu algum crime? Onde estão as imagens dele quebrando algo?
Desde então, a nossa família tem enfrentado um verdadeiro pesadelo, marcado por muitos sofrimentos, principalmente para meus pais, que já estão em idade avançada, com 87 e 90 anos. A situação se tornou desesperadora quando, em 9 de janeiro de 2023, recebemos a notícia de que ele seria detido. A partir desse momento, perdemos todo o contato com ele. Ficamos angustiados e aflitos por dias, sem saber qualquer notícia. Ao mesmo tempo, acompanhávamos as notícias sobre os ônibus que circulavam pela cidade com detidos, o que agravou nosso desespero. Somente na quarta-feira seguinte, conseguimos localizá-lo no sistema penitenciário da Papuda. No entanto, passamos sete meses em condições precárias: um presídio superlotado, com alimentação insalubre, contendo larvas e até pedaços de vidro.
A única arma que Marco Afonso portava era o terço na mão e a Bíblia dentro da mochila , quando foi detido! Durante todo esse período, a defesa de meu irmão ficou comprometida, pois seu advogado não teve acesso às imagens ou provas relacionadas ao caso. Essa falta de acesso dificultou a construção de uma defesa justa e eficaz, aumentando ainda mais a nossa aflição. A experiência que vivemos é um testemunho das dificuldades enfrentadas por muitas famílias em situações semelhantes. Esperamos que, com o tempo, as injustiças sejam corrigidas e que possamos encontrar paz e justiça para todos os envolvidos.
O julgamento de Marco Afonso foi realizado de forma virtual, com a defesa gravada, e levou meses para que uma denúncia formal fosse apresentada. Apesar disso, a Suprema Corte do Brasil negou todos os recursos apresentados.
Marco Afonso foi condenado a 14 anos, sem direito a recorrer e negaram todos os recursos protocolados pelo seu advogado. Marco Afonso, um cidadão sem antecedentes criminais e sem envolvimento político, teve todos seus bens bloqueados, incluindo contas bancárias, carro e até mesmo sua casa, contrariando a lei que proíbe a privação de moradia. Após sete meses de detenção arbitrária, Marco Afonso foi liberado para casa, mas sob restrições severas. Ele foi obrigado a usar tornozeleira eletrônica e proibido de utilizar redes sociais ou sair de casa, mesmo para participar de celebrações religiosas à noite. Mesmo cumprindo rigorosamente as exigências impostas, ele foi novamente detido 5/6/2024 enquanto participava de uma missa pela manhã; causando grande susto para ele e sua família.
Ele foi preso na porta da igreja , sem um mandado de prisão, sendo que nem seu advogado tinha conhecimento dessa ordem de prisão! Acredita-se que a nova prisão de Marco Afonso esteja relacionada ao fato de que alguns envolvidos no caso se refugiaram em países vizinhos, temendo prisões injustas. Muitos permanecem presos sem saber exatamente de que são acusados e sem acesso a uma defesa justa.
Esse relato ilustra a violência que nossa família está enfrentando. A restrição de direitos, a falta de transparência no processo e o sigilo das imagens que comprovam a inocência da maioria dos envolvidos, especialmente do meu irmão Marco Afonso, revelam uma afronta à liberdade de expressão e aos direitos fundamentais. Eu pergunto: qual foi o crime cometido pelo meu irmão? Estar presente em uma manifestação pacífica? Pergunto: onde estão as provas que ele cometeu algum crime? Onde estão as imagens dele quebrando algo?
A liberdade de expressão e o direito à manifestação pacífica são essenciais para uma sociedade democrática. Não podemos permitir que essas garantias sejam destruídas.”
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