G. DIAS CUMPRIMENTOU RAQUEL NO PLANALTO EM 08/01

Raquel é procurada pela Polícia Federal por ordem do Gabinete do Ministro Alexandre de Moraes. Ela foi condenada a 16 anos e meio de prisão por ter entrado num prédio da República em 8 de janeiro do ano passado, para se refugiar do ataque de bombas.

Por Ana Maria Cemin – Jornalista

16/10/2023 – (54) 99133 7567

Convido você a ler a história de uma mulher simples que ficou 7 meses presa em Brasília e pode ser condenada na segunda-feira, dia 23 de outubro, a 17 anos de cárcere, por decisão do STF.

“Eu tenho 51 anos, sou ré primária, mãe de dois filhos e avó de netas de 2 aninhos. Eu trabalho num restaurante em Joinville, SC, e preciso de ajuda: o Supremo Tribunal Federal está me julgando e o ministro relator Alexandre de Moraes deu um voto para que eu fique presa por 17 anos. Estou acompanhando os julgamentos virtuais dos patriotas em Brasília, e quase todos os demais ministros seguem o seu voto. Eu preciso de ajuda, pois fizeram uma grande injustiça comigo ao me prenderem em 8 de janeiro de 2023. Não quebrei nada! Não é da minha índole fazer isso e nem tenho histórico de fazer baderna.

Eu fui lesada de todas as maneiras: na saúde, psicológico, emocional e no âmbito financeiro. Eu e minha família perdemos muito dinheiro. No dia 8 de agosto, eu fui liberada do presídio com uma série de restrições, com uso de tornozeleira que provoca feridas no meu tornozelo. Preciso ir todas as segundas-feiras no Fórum para assinar um documento.

Raquel trabalha num restaurante, é mãe de dois filhos e vó de duas menininhas. Nunca cometeu qualquer crime. Já ficou sete meses no presídio por ir a Brasília numa manifestação ordeira e pacífica que se transformou num inferno para muitos patriotas.

No momento, estou esperando o julgamento ser concluído (dia 23 de outubro) e espero em Deus que eu e todos os que não quebraram nada nos prédios da República sejam absolvidos.” – Raquel de Souza Lopes

CONVITE DO EXÉRCITO PARA ENTRAR

“Entrei no Palácio do Planalto para fugir do mal-estar provocado pelas bombas jogadas pela Polícia Federal na Praça dos Três Poderes. Desde que tinha chegado eu estava empenhada em encontrar a minha irmã, de quem eu havia me perdido assim que chegamos na praça, por volta das 15h30. Eu estava muito preocupada por ela ter problemas de saúde, como pressão alta, e naquele dia ela tinha reclamado de dores de cabeça e na nuca.

Somos catarinenses e, portanto, eu não conhecia ninguém para pedir ajuda para a encontrar. Então, eu entrei no prédio sem pensar, bem ingênua, sem maldade. Inclusive tinha um policial com roupa do Exército que me chamou para entrar e eu perguntei se precisava ser revistada, ao que ele respondeu prontamente que “não”. Achei até normal, porque eu não estava com mochila ou bolsa, e tinha comigo apenas o meu celular, documento e cartão de crédito. Mostrei a ele.

Quando adentrei o prédio, me senti segura, pois encontrei o General G. Dias, que até então era o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, logo na entrada, que me cumprimentou. Um funcionário do Planalto me ofereceu uma garrafa com água como se já me conhecesse, e eu me senti como se eu fosse bem-vinda ali. Depois disso, encontrei eles várias vezes nos corredores. É possível conferir em vídeos publicados em rede nacional e internacional, como a CNN do Brasil.

O G. Dias foi muito simpático com a Raquel, assim como o policial que a convidou a entrar e não quis revistar a patriota. Um policial ainda ofereceu água. Todos esses sinais passaram a sensação de que estava protegida dentro do Palácio do Planalto, para onde fugiu para se refugiar das bombas e tiros.

BOMBAS JOGADAS DENTRO DO PLANALTO

Fiz um vídeo que confirma que eu entrei no Planalto às 15h50 com meu celular na mão, gravando o ambiente e fazendo selfie. Fui gravando até que acabou a bateria. Andei pelo corredor e depois me sentei no chão perto da porta de entrada da rampa de acesso. Eu estava esperando que as bombas lá fora parassem de cair sobre os patriotas, para só então voltar para o hotel onde eu estava hospedada. Eu estava muito cansada da viagem, até porque cheguei em Brasília justamente no dia 8 de janeiro, depois de 30 horas de viagem de ônibus.

Quando estava sentada no chão, vi a chegada de uma grande quantidade de policiais. Eles entraram jogando bombas em cima de todas as pessoas que estavam ali naquele lugar fechado. Foi terrível!  Comecei a tossir muito e passar muito mal, então deitei-me no chão e cheguei muito próxima a um desmaio.

“VAMOS FUZILAR TODOS VOCÊS!”

Os policiais entraram com violência e aos gritos: “Vamos fuzilar todo mundo”. E xingavam a todos nós com palavreado promíscuo. Bateram em pessoas, como a Senhora D, colocaram revólver na cabeça da Senhora V e ameaçaram atirar nela. Cai em desespero e senti muito medo frente a todo aquele cenário de horrores.  

Uma das coisas que chamou a nossa atenção foi que os policiais começaram a andar entre nós, rendidos no chão, e disseram para três homens mascarados que usavam roupa do Exército que estavam no chão conosco: “Esse é nosso, esse é nosso e esse é nosso”. Isso mostrou que aqueles homens com roupa do Exército que nos influenciaram a entrar faziam parte daquele grupo de policial que estava naquele momento nos ameaçando. Tudo que falo pode ser confirmado em imagens que estão em um vídeo, onde podemos conferir a entrada da Tropa de Choque no Planalto em 8 de janeiro.

Depois algemaram todo mundo e mandaram entrar em um ônibus rumo à Delegacia da Polícia Civil. Durante todo esse processo, eu sentia muita vontade de ir ao banheiro, mas ninguém permitiu a ida, isso que eu implorei para várias pessoas.

Eu não tive outra escolha a não ser urinar na minha própria roupa, situação que me causou muito sofrimento.

Lá na Delegacia da Polícia Civil, achei que iriam pegar o meu depoimento e logo me liberar, mas não foi o que aconteceu. Apreenderam o meu celular e segui todos os procedimentos para a minha prisão, como exame de corpo delito. Nunca tinha passado por uma humilhação tão grande nos meus 51 anos. Nós passamos a noite inteira em procedimento até que, por volta das 6 horas da manhã do dia 9 de janeiro eu cheguei no Presídio Colmeia, onde fiquei sete longos meses.

Tudo que Raquel conheceu de ordem e educação nas manifestações se transformou em caos ao pisar na Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro.

Síntese dos 7 meses mais horríveis na minha vida:

  • Logo na entrada, mandaram tirar a minha calça jeans, camiseta, sutiã e calcinha. Me deram uma bermuda e uma camiseta de uniforme do presídio. Fiquei com a mesma roupa por 16 dias e não tinha toalha para tomar banho, nem calcinha ou sutiã. Somente 20 dias depois chegaram doações de roupas íntimas.
  • A Audiência de Custódia demorou muitos dias para acontecer, sendo que a legislação brasileira determina ser em 24 horas.
  • Na ala onde fui presa junto com 172 patriotas existia apenas um (1) vaso sanitário, onde fazíamos a nossa necessidade e, ainda, estava entupido. Tivemos que fazer as nossas necessidades em sacos plásticos.
  • Tinha apenas dois (2) chuveiros para 172 pessoas, num verão atordoante de Brasília. A espera era de até quatro horas na fila para tomar um banho. O detalhe: no inverno era horrível, porque o banho era gelado.
  • A comida era igual a uma lavagem para porcos. Sem contar que eu tenho alergia a vários alimentos, como carne suína, soja, leite, glúten, cacau, feijão e amendoim). Não recebi uma dieta apropriada. O achocolatado e o pãozinho que recebia todos os dias continham leite, cacau e glúten. As carnes de suíno e de soja eram os carro-chefe do almoço e do jantar.
  • Já na delegacia avisei que tomo remédios controlados de uso contínuo (gabapentina, ritalina, entre outros) para um problema neurológico. Avisei também no presídio, mesmo assim não deixaram entrar a ritalina. A gabapentina entrou somente depois de três (3) meses. Tudo era uma burocracia. Passei muito mal, não conseguia dormir por causa do problema neurológico e pela tortura emocional em que fui submetida pelo sistema. Até hoje não consegui ainda voltar ao normal. Tive que abandonar o tratamento.
  • Vi muitas pessoas passando mal na ala, algumas desmaiavam por desnutrição, outras por pressão alta, outras por problemas de saúde que não estavam sendo tratados.
  • A médica da instituição ficou até dois meses em férias. Nós éramos atendidas por um enfermeiro na maioria das vezes.
  • Passávamos até três (3) dias sem tomar o banho de sol e na maioria das vezes era por apenas 30 minutos.
  • Nos obrigavam a sentar no chão quando íamos ao pátio, num piso quente, embaixo de um sol de 40°C, por um período de 30 minutos. Isso causou hemorroidas e insolação em várias mulheres.
  • Tenho problemas sérios de coluna L5S1, que se agravam ao ficar muito tempo sentada ou em pé. Eu vivia a base de anti-inflamatório e remédios para dor lá dentro.
  • Eu tinha que praticar atividades físicas (corrida) de chinelo de dedo, porque não era permitido entrar tênis, o que é muito grave para quem tem o meu problema de coluna.
  • A maioria dos policiais de plantão nos tratavam mal, nos xingavam e ameaçavam nos colocar junto com as presas comuns. Isso nos levava a uma tortura psicológica sem dó nem piedade.
  • Nos deixavam por até nove (9) horas numa sala mofada e suja no dia de falar com o advogado. Às vezes éramos esquecidas lá.
  • Quando nós precisávamos passar por revista íntima, as policiais ordenavam que tirássemos toda a roupa e nos abaixássemos três vezes. Ficávamos constrangidas. Não éramos acostumadas a passar por essas situações. Elas riam. Debochavam da gente.

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