
Ana Maria Cemin – 26.06.2025
Thereza Helena de Oliveira Souza Sena, 54 anos, vivia há mais de uma década em Zurique, na Suíça, atuando como capelã e pastora da Igreja Evangélica Nova Aliança, quando foi retida no Brasil. Thereza veio ao Brasil em 2022 para tratar de assuntos pessoais, mas o fato de estar aqui naquela conjuntura de eleição presidencial a levou para um rumo inesperado: encantada como o movimento verde/amarelo, foi convidada a participar de manifestações em Brasília, para onde foi e ficou apenas no QG. Por estar em Brasília, foi detida e passou 52 dias no presídio Colmeia. Desde então, cumpre medidas cautelares, com uso de tornozeleira eletrônica, e aguarda a autorização do STF para retornar ao país onde mora com o marido e o filho.
Essa possibilidade está mais perto do que nunca, porque o seu julgamento virtual inicia amanhã, dia 27 de junho e se estende até 5 de agosto. Na melhor das hipóteses, será condenada a um ano de restrição de direitos, o que pode representar mais um ano no Brasil, a partir de sua condenação.
A entrevista que fiz com Thereza foi ainda no primeiro semestre de 2023, quando ela estava sendo acusada de ser uma “infiltrada” pelo Senador Marcos do Val, quando ela de fato atuou apenas como negociadora com o Exército na manhã de 9.01.2023, porque estava sendo exigida a evacuação em apenas uma hora. Na época da entrevista, ela explicou que era impossível cumprir essa determinação do Exército, porque ali estavam acampados muitos idosos e crianças. Como evacuar mais de 2 mil pessoas em tão pouco tempo? Se você não conhece a história dessa pastora, leia as próximas linhas.
DO ACAMPAMENTO À PRISÃO
Thereza chegou à capital federal no sábado, 7 de janeiro de 2023, e permaneceu no QG do Exército em razão de suas limitações físicas — é portadora de esclerose múltipla, fibromialgia e utiliza aparelho de oxigênio. Ela não esteve presente na Praça dos Três Poderes durante as invasões e depredações dos prédios no dia seguinte.
Com a circulação de vídeos nas redes sociais mostrando o interior dos prédios públicos, houve perplexidade no acampamento, porque as pessoas não foram para lá para promover badernas, mas apenas para repetir o ato patriótico que já faziam há semanas na frente dos quartéis de suas cidades.
No mesmo dia das depredações, quem estava acampado viu o Exército cercar a região com um anel de policiais, além da presença de helicópteros, tanques e drones. O clima era de confusão.
“Fomos pressionados a evacuar na manhã do dia 9.01. Não havia liderança. Me ofereci para ajudar na negociação com o BOPE e a PF, tentando proteger mulheres, crianças e idosos”, conta. Thereza afirma que um vídeo seu falando ao microfone foi editado. “Transmiti apenas a orientação oficial para que todos entrassem nos ônibus. Também disse que quem resistisse seria removido à força”, relembra.
AS CONDIÇÕES NO PRESÍDIO
Levada inicialmente para um ginásio da Polícia Federal com mais de 2 mil pessoas e, depois, ao presídio Colmeia, relata que o ambiente era insalubre. “Éramos 120 mulheres numa ala com um chuveiro frio e duas privadas. Meus medicamentos nunca chegaram, minha pressão disparou. Minha colega de cela quase morreu por falta de oxigênio”, denuncia.
Seus laudos médicos, emitidos na Suíça, precisaram ser traduzidos às pressas para tentar garantir a entrega de seu aparelho de oxigênio.
MONITORADA, AFASTADA DA FAMÍLIA E SEM PODER EXERCER O MINISTÉRIO
Em liberdade provisória, Thereza vive em sua cidade natal, Teófilo Otoni (MG). Está proibida de sair após as 18h, e deve permanecer reclusa nos fins de semana e feriados. “Não posso pregar, visitar fiéis, nem atender espiritualmente. Isso para uma pastora é devastador”, desabafa.
Na época em que concedeu essa entrevista, há mais de dois anos,Thereza contou que seu filho, com diagnóstico de autismo, seguia com o pai em Zurique. “Ele precisa de mim. Meu lar e minha vida estão lá. Eu só queria voltar.”
Linha do tempo dos principais fatos
Data | Evento |
Dez/2022 | Thereza viaja ao Brasil para tratar de assuntos da filha |
7/jan/2023 | Chegada em Brasília para manifestação; permanece no QG |
8/jan/2023 | Invasão aos Três Poderes; acampamento é cercado |
9/jan/2023 | Evacuação do QG; ela é detida e levada ao presídio Colmeia |
fev/2023 | Liberdade provisória concedida por decisão do ministro Alexandre de Moraes |
até o momento | Usa tornozeleira, aguarda o julgamento e a autorização judicial para retornar à Suíça |
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