
Ana Maria Cemin – 22/10/2025
Nesta semana, a jovem Agnes Rondon Gusmão, de apenas 22 anos, embarcou em uma jornada comovente rumo ao Complexo Penitenciário Federal de Ezeiza, na Argentina. Levava consigo os seus dois irmãos — João Guido, de 10 anos, e Ian, de 6 anos — além de seu bebê Levi, de apenas 10 meses. O destino era o reencontro com o pai, Joelton Gusmão, condenado a 17 anos de prisão pela Suprema Corte brasileira por estar em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023. Ele está encarcerado fora do país a pedido do Governo Lula.
Foi um momento de afeto familiar, mas incompleto pela ausência da mãe, Alessandra, o que torna tudo ainda mais doloroso para todos os membros da família. Há um ano ela não vê o marido, preso na Argentina, e como também foi condenada à mesma pena de 17 anos, vive sob a ameaça de prisão caso tente visitá-lo. A família, embora separada por decisões judiciais, resiste com coragem e amor.

Assim como centenas de brasileiros, após as condenações por participação na manifestação de 8 de janeiro, Joelton e Alessandra buscaram refúgio na Argentina, onde recomeçaram a vida com dignidade, abrindo um pequeno negócio de alimentação para sustentar os filhos. No entanto, em meados de 2024, o governo brasileiro solicitou a extradição de 61 exilados políticos. Cinco deles foram presos, entre eles Joelton.
Desde então, as famílias dos cinco detidos vivem em constante luta pela liberdade, amparadas por leis internacionais que protegem o direito ao asilo. O que supreende é o comportamento das autoridades argentinas diante dessas prisões, que permanece envolto em silêncio e mistério. Juridicamente, todos deveriam estar em liberdade, aguardando o desfecho dos processos.
A FORÇA DE UMA FILHA
Agnes é incansável na luta pela liberdade dos pais e participa de muitos eventos pela liberdade dos presos do 8 de janeiro. Destaco aqui a sua participação no Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, no dia 29 de maio deste ano. A sua fala e seu pedido por anistia foram profundamente tocantes. Com a voz embargada pela dor e pela esperança, Agnes fez um apelo pela liberdade de seus pais e das demais vítimas do 8 de janeiro. Ela contou que a sua família vivia em paz na época dos protestos, sem qualquer histórico criminal, e que seus pais participaram das manifestações movidos por convicções conservadoras.

Agnes enfatizou que não há provas de vandalismo ou violência por parte dos pais. O que ocorreu foi a busca por refúgio em prédio público durante o ataque das forças policiais, que usaram gás de efeito moral e balas de borracha para dispersar os manifestantes.
Ainda no dia da manifestação, os pais de Agnes foram levados para prisão preventiva nos presídios da Papuda e Colmeia. Em 2024, Joelton e Alessandra foram condenados sem direito a recurso em outra instância, ferindo os direitos previstos a todos os cidadãos brasileiros. Sabendo que retornariam ao sistema prisional brasileiro, buscaram asilo político na Argentina, e, mesmo assim, Joelton foi preso novamente ao tentar renovar sua permissão de permanência.
“De uma hora para outra, os meus pilares foram arrancados de mim. Desde então, tenho lutado todos os dias para processar a dor, o vazio e, acima de tudo, a injustiça brutal que se abateu sobre a minha família. Tivemos que fugir do Brasil. Nossos lares, nossa história, tudo ficou para trás.”
— Agnes Gusmão (Fonte: Bureaucom – Filha de exilados emociona em audiência pública pela anistia)
JOELTON E ALESSANDRA
Joelton e Alessandra são empresários e foram sentenciados por crimes que não cometeram, como tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e associação criminosa armada. Eles nunca usaram armas! Após a condenação, conseguiram refúgio na Argentina, alegando perseguição política e violação de direitos fundamentais no Brasil.
Como já relatado, Joelton está preso no presídio de Ezeiza há quase um ano, aguardando decisão sobre seu processo de extradição. Há quem diga que o caso é juridicamente complexo e envolve tensões diplomáticas entre os dois países. Inclusive, a Advocacia-Geral da União solicitou participação formal no processo, o que gerou críticas sobre possível desequilíbrio e ativismo judicial.
Por tudo isso, o pai de Agnes tornou-se símbolo de um embate delicado entre justiça e política. O desfecho de sua história poderá influenciar o destino de dezenas de brasileiros refugiados na Argentina sob acusações semelhantes. E Agnes, embora muito jovem, tem se destacado como voz firme e sensível na defesa dos pais e na denúncia dos abusos enfrentados por tantas famílias.
UM LAR QUE PRECISA SER RECONSTRUÍDO
A trajetória de Alessandra e Joelton, cidadãos exemplares e pais de três filhos, tornou-se um retrato do Brasil no Governo Lula. Por terem ido a Brasília para uma simples manifestação, ocorreram as prisões. Somente no final de 2023, após mais de dez meses preso, Joelton recebeu o alvará de soltura. A família, então, vivia entre o alívio e a incerteza.
Antes de tudo acontecer, os cinco viviam em Vitória da Conquista, na Bahia, para onde se mudaram em 2022 a fim de cuidar do pai de Joelton, de 78 anos, que havia passado por uma cirurgia cardíaca. Lá, abriram uma hamburgueria e alugaram uma casa para se estabelecer.
Agnes cursava o 5º semestre de Odontologia na Faculdade Independente do Nordeste. Os estudos foram imediatamente interrompidos com a prisão dos pais, assim como largou o emprego que ela mantinha. Aos 20 anos, assumiu os cuidados com a casa e os irmãos — uma carga imensa para alguém tão jovem.

Mesmo com a soltura de Joelton e Alessandra dos presídios de Brasília, a vida da família nunca voltou ao normal. Ambos utilizavam tornozeleiras eletrônicas e seguiam uma série de restrições de ir e vir, aguardando o julgamento final no STF. Alessandra sonhava em reconstruir a vida ao lado do marido, curar as feridas emocionais e, quem sabe, mudar de ramo profissional. Após uma década dedicada à pizzaria e à hamburgueria, o casal cogitava aceitar uma proposta de representação comercial recebida antes da prisão.

Essa é a fotografia de uma família que, no fim de 2023, lutava para se reerguer em meio a incertezas jurídicas, dificuldades financeiras e cicatrizes emocionais. Sem alternativa para manter a família unida, em 2024, após receberem pena de 17 anos em regime fechado, os cinco deixaram o Brasil. A história dos Gusmão de Oliveira é marcada por fé, resiliência e o desejo profundo de reconstruir a vida em liberdade.
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