
Ana Maria Cemin – 17/07/2025
Durante uma entrevista exclusiva, Mariana Naime compartilhou uma sequência de acontecimentos que revelam uma estratégia cuidadosamente orquestrada para implicar injustamente o seu marido, o coronel Jorge Eduardo Naime, nos atos de 8 de janeiro de 2023. Ela trouxe detalhes sobre decisões equivocadas, omissões, movimentações políticas e documentos que mostram que Naime foi excluído dos planos de inteligência e ação — mesmo ocupando cargo de liderança.
Leia, na voz de Mariana, esse texto que pode ajudar você a entender a visão da família Naime sobre esse momento político do Brasil.
“O Brasil assistiu perplexo aos acontecimentos do dia 8 de janeiro de 2023. Mas por trás das imagens que correram o mundo, havia uma engrenagem oculta — silenciosa, estratégica e, sobretudo, conveniente para alguns. No centro dessa engrenagem, injustamente, colocaram o nome de um homem: Coronel Jorge Eduardo Naime, o meu marido.
A CRISE ANUNCIADA
No dia 7 de janeiro, véspera do caos, ocorreu uma reunião decisiva na sede da Secretaria de Segurança Pública do DF. Estavam presentes o delegado Federal Andrei Augusto Passos Rodrigues; o delegado Fernando de Sousa Oliveira, que atuava como secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública do DF; e a Coronel Cíntia Queiroz de Castro, da PMDF, que estava responsável pelas operações integradas das forças de segurança do DF.
O alerta foi claro: havia risco elevado e concreto de invasões violentas aos Três Poderes. O relatório da inteligência previa a chegada de ônibus com manifestantes exaltados, possivelmente armados, organizados — diferentes dos perfis pacíficos que caracterizavam manifestações anteriores.
Mesmo diante do cenário alarmante, nenhuma medida real foi tomada: não se instalou gabinete de crise, não se reforçou o efetivo, não se alterou o planejamento operacional. Pior: o relatório de inteligência da própria secretaria ficou na mesa da Cíntia, sem ser aberto, além de também não ter sido difundido para as instâncias táticas da PMD, o setor de planejamento da corporação e todas as demais instituições.
No dia seguinte, 8 de janeiro, a omissão deu lugar à autorização: permitiram que os manifestantes descessem rumo à Praça dos Três Poderes, abandonando o controle que tinham no QG. Levaram o conflito para o coração institucional do país — um ato inexplicável à luz de qualquer plano de gerenciamento de crise.
A pergunta ecoa até hoje: Por que a Secretaria de Segurança contrariou seu próprio Plano de Ações Integradas e autorizou que um público inflamado saísse de uma área segura para uma zona de altíssimo risco?
Naquele momento, o Coronel Naime estava de férias, com autorização formal, tratando sequelas físicas de um ano de serviço intenso. Ele não participou de nenhum dos grupos específicos para as manifestações do dia 08/01 de planejamento e inteligência — “Difusão” e “Perímetro” — e só soube da gravidade da situação no próprio dia 8, quando foi chamado, de última hora, para intervir.
Mesmo de férias, mesmo alheio à crise, Naime foi ao combate. Liderou pessoalmente as tropas, foi ferido por rojões, realizou prisões, restabeleceu a ordem em menos de 40 minutos após sua chegada. E ainda assim, virou o “boi de piranha” — o nome usado para encobrir o fracasso das autoridades que, de fato, tinham a responsabilidade pelo planejamento e prevenção da crise, e se omitiram.
Sua presença evitou o derramamento de sangue naquele dia. Atuou com base na técnica, na legalidade, em sua experiência e competência — não cumprindo ordens ilegais do interventor, mas protegendo a vida, o patrimônio e a ordem.
E mais: Naime é o único policial militar entre os réus do 8 de janeiro que estava de férias, sem vínculo algum com o planejamento prévio. Todos os demais sabiam, participaram ou tinham responsabilidade direta. Naime, não. E mesmo assim, é réu.
NULIDADES E PERSEGUIÇÃO JURÍDICA
Hoje, Naime aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal — sem direito à ampla defesa em sessão presencial, sem sustentação oral de sua defesa, com base em um processo repleto de vícios e nulidades, conforme denunciado por sua equipe jurídica. Entre os vícios mais graves, destacam-se:
- Violação da cadeia de custódia do celular apreendido (provas contaminadas e sem confiabilidade);
- Exclusão de provas favoráveis e negativa de diligências fundamentais para sua defesa;
- Interpretações subjetivas e políticas das ações técnicas da PMDF;
- E a mais grave de todas: a ausência de indícios de conduta dolosa ou criminosa, uma vez que Naime nem sequer fazia parte do planejamento dos atos.
O que se vê é um processo conduzido não para apurar a verdade, mas para construir narrativas que justifiquem o endurecimento institucional e a punição de quem ousou agir com lealdade à Constituição.
Não há prova alguma contra Naime nos autos — ao contrário, existem inúmeras provas a favor de sua completa inocência.
O que está em jogo no Caso Naime não é a justiça penal, mas a sobrevivência de um projeto político de concentração de poder. A rapidez com que Naime conteve os danos do dia 8 contrariou os interesses de quem esperava o caos para justificar medidas excepcionais — como a intervenção federal e a repressão generalizada.
Naime não era útil como herói. Precisava ser convertido em vilão.
Sua prisão, por mais de 460 dias, foi uma sentença antecipada. Sua reputação, alvo de uma máquina de desinformação que até hoje manipula algoritmos de busca para esconder a verdade. Nossa família, silenciada e perseguida.
Mas a história não termina aqui.
IMPACTOS HUMANITÁRIOS E FAMILIARES
Por trás da farda, existe um ser humano. Naime é pai de seis filhos, marido dedicado e provedor integral de sua família. A sua prisão injusta desencadeou uma sucessão de dores silenciosas e prolongadas. Eu, Mariana Naime, assumi não apenas os cuidados da casa e dos filhos, mas também a luta pública por justiça e verdade.
A família sofreu com abandono por parte de colegas e instituições, foi alvo de perseguição pública, traições, censura e de humilhação institucional. O sofrimento emocional se estendeu por mais de 460 dias, com graves consequências psicológicas e financeiras.
Antes, eu era reservada e me vi obrigada a me tornar porta-voz de uma causa maior: denunciar os bastidores do 8 de janeiro e dar rosto a uma injustiça que o Estado tenta esconder. Mesmo diante de ameaças, silenciamentos e resistência institucional, permaneço em pé, levando a verdade aos que ainda têm coragem de escutar.
A dor da minha família representa o grito de muitas outras que foram atingidas pelas mesmas mãos que hoje tentam apagar a história.
A VERDADE PRECISA DE VOZ
São mais de 17 volumes de documentos, relatórios, mensagens e testemunhos que revelam, com clareza, quem sabia dos riscos, quem omitiu ações essenciais, quem contrariou os planos da própria Secretaria e quem fracassou em proteger a democracia naquele 8 de janeiro.
Essas provas foram entregues a políticos, jornalistas e autoridades. E ainda assim, seguem sendo ignoradas.
A luta não é apenas por justiça para o Coronel Naime, mas por memória, por verdade e por liberdade para todos os brasileiros que foram vítimas de um teatro político cruel e seletivo.
Eu acredito que a injustiça será reparada. A verdade, um dia, será ouvida.
E a última palavra virá — não da narrativa dominante, mas do Tribunal que jamais falha: o de Deus.” – Mariana Naime
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