
Ana Maria Cemin – 17/04/2025
O cafeicultor Antônio Marcos Ferreira Costa, 38 anos, não conhece a sua filha Helena, hoje com quatro meses, porque ele teve que escolher entre sair do Brasil ou voltar para o presídio. Costa sofre demais no exílio por saber que a esposa e seus quatro filhos pequenos passam por dificuldades financeiras e emocionais. São muitas feridas abertas pelo 8 de janeiro de 2023.
A história “criminal” desse agricultor do setor cafeeiro de Ji-Paraná, Rondônia, iniciou com o convite feito por amigos para buscar um carro em Brasília. Eles foram à capital federal em 7 de janeiro de 2023, numa saída curta e que era para ser divertida. Em Brasília, souberam da manifestação na Praça dos Três Poderes e foram para lá. Passaram pela barreira de contenção policial, onde os próprios policiais disseram que poderiam passar sem problemas. Foi então que Costa e os amigos caíram numa armadilha ardilosa.
O ambiente da Praça dos Três Poderes, onde encontram-se os prédios da República, de uma hora para outra ficou absolutamente agressivo, em clima de guerra, com helicópteros jogando bombas de efeito moral sobre as pessoas e policiais em solo atirando com balas de borracha.
O desespero da multidão era tamanho que muitos entraram em prédios que já estavam abertos naquele momento e a convite de policiais. Algumas pessoas entraram e saíram em seguida, outras decidiram permanecer no local até tudo acalmar. Costa foi um que não quis arriscar a sua segurança e ficou no prédio, porém acabou preso por estar no local.
Isso tudo aconteceu por volta das 17 e 17h30 de 8 de janeiro. Esses poucos minutos foram o suficiente para que o Supremo Tribunal Federal (STF) condenasse Costa a 14 anos de prisão, pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de estado, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e associação criminosa armada. Além disso, seus bens e recursos em banco foram bloqueados pela União para pagamento de 100 (cem) dias-multa, cada dia-multa no valor de 1/3 (um terço) do salário-mínimo, além R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais), a ser adimplido de forma solidária pelos demais condenados pelos chamados “cinco crimes mais graves”.
LONGE DOS QUATRO FILHOS
Quem conta a história dessa tragédia familiar é a esposa Eliana Cesconotto Sartori Costa, 43 anos. O casal tem quatro filhos: Samuel, 8 anos; Cecília, 4 anos; José, 2 anos; e Helena, 4 meses.
“Nós somos agricultores aqui em Ji-Paraná e plantamos café. Meu marido, ao sair para Brasília, disse que ficaria três dias fora, mas voltou somente sete meses depois. Ele ficou preso no Presídio Papuda junto com os patriotas, voltou para casa com tornozeleira eletrônica e, não demorou muito, saiu o julgamento dele e foi condenado a 14 anos de prisão”, relata.
Eliana conta que em maio do ano passado, sem ter alternativa, o marido pediu asilo na Argentina. Todas as tentativas da defesa em mostrar que não faziam sentido tanto a prisão quanto a condenação pelo STF foram em vão.
“Meu marido que tocava o sítio e para mim está tudo muito difícil sem ele. A nossa filha de 4 anos chora durante dias e não come, o meu filho de 8 anos está muito revoltado com a ausência do pai. Não está sendo fácil esse momento para a nossa família”, desabafa.
PERDA DO PAI NESSE MÊS
Em luto pela perda do pai nesse mês de abril, por fibrose pulmonar, Eliana necessita ser uma fortaleza dentro de casa, sabendo que o seu marido está longe, vivendo de forma precária em outro país, dormindo no chão sobre um colhão e comendo somente o necessário para manter-se vivo.
“A nossa esperança é a anistia. Desde que tudo isso começou, a gente espera que alguma coisa aconteça para parar esse processo de destruição das famílias”, diz.
Diariamente, Eliana se desloca com as crianças do sítio à cidade para as atividades na Escola Santo Tomas de Aquino. Fica com elas na escola das 7h30 às 12h, e depois volta para casa com as crianças para as lidas domésticas e do sítio, e tenta preencher a ausência do pai da forma que é possível.
“Helena nem conhece o pai, porque ele foi embora quando eu estava no início da minha gravidez. Eu gostaria de levar as crianças para ver o pai, mas isso é inviável, porque vivemos numa montanha russa de sentimentos e as questões financeiras precisam ser levadas em conta. Tenho ficado muito nervosa pelo excesso de serviço e tem dias que tenho vontade de sumir, mas eu preciso me manter forte”, conta, revelando o quanto abalada está nesse momento.
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