
Ana Maria Cemin – 11/04/2025
A carta do preso político Marco Afonso Campos de Santos me foi entregue pela sua família e é um apelo para um ato humanitário. Na foto dessa matéria estão, da esquerda para a direita: o preso político, a irmã Graciele, a mãe Maria Arlete, o pai Afonso Pereira e as irmãs Gracíola e Graciêne Inêz. Eles clamam por justiça!
Segue a carta que chegou do presídio de Divinópolis, MG.
“Meu nome é Marco Afonso, tenho 62 anos, sou funcionário aposentado e venho através desta mostrar, resumidamente, o que vem acontecendo desde o dia 8/01/2023. Fomos a Brasília manifestar o nosso descontentamento com várias irregularidades que aconteceram antes e durante o processo eleitoral para a presidência do Brasil.
Chegamos a Brasília e nos dirigimos à Praça dos Três Poderes de forma pacífica e sem tumulto. Chegamos à praça por volta das 15 horas e, antes de adentrar, passamos por uma barreira policial onde houve uma severa revista, visando a impedir a entrada de armas ou qualquer material que pudesse ser usado, como metal.
Pouco tempo depois que chegamos veio um forte aparato policial (guarda nacional, tropa de choque e exército) com cavalos, bombas de efeito moral lançadas por terra e por ar, armas com projéteis de borracha.
Diante deste cenário, e para me proteger, me abriguei no palácio presidencial, onde fui preso. Dentro do palácio presidencial, o oficial da PM nos tratou de forma ríspida e truculenta, inclusive pisando em uma manifestante que passava mal devido às bombas de gás, e não conseguia fazer o procedimento exigido pela polícia.
Fui encaminhado à polícia civil e no dia seguinte me levaram para o Papuda onde permaneci preso por 7 meses. Meus advogados tiveram todos os recursos negados pela Suprema Corte. O Flávio Dino, ministro da Justiça na época, negou todas as imagens do sistema de segurança. Imagens que poderiam nos condenar ou nos inocentar, mostrando quem quebrou ou não. Nossos processos já começaram de forma equivocada, na 3ª instância, e não temos foro privilegiado. Deveríamos iniciar na 1ª instância.
No presídio Papuda fomos tratados de forma desumana, sem acesso a tratamento médico e medicamentos, que culminaram inclusive com a morte de um dos nossos o Clériston, mais conhecido como Clezão.
Recebemos uma alimentação indigna de ser humano, onde se encontrávamos pedaços de madeira, pedras, plásticos, pelo de vassoura, comida revirada, pelos e pedaços de ratos. Meu Deus, quanta humilhação!
Outro ilícito ocorrido: fomos forçados a tomar mais uma dose da vacina da covid. Caso não aceitássemos, passaríamos pela disciplina do presídio. Também tivemos o nosso material genético, o DNA, recolhido de forma arbitrária sem prévia autorização.
Depois de 7 meses fui liberado com tornozeleira eletrônica e todas as segundas-feiras tive que assinar no fórum, sendo que em outros processos penais os condenados assinam uma vez por mês.
Fiquei 10 meses com tornozeleira e um dia antes de ser preso pela segunda vez consultei o meu advogado, e ele disse que meus recursos não tinham nem sido visualizados. Porém, no dia seguinte fui preso. O Supremo colocou em sigilo e meu advogado nem ficou sabendo. O processo transitou em julgado. Fui condenado a 14 anos de prisão.
Aqui no presídio em Divinópolis, MG, já paguei mais de 2 anos, praticamente 2 anos e 2 meses, e o Supremo não se posiciona sobre quanto tempo eu ainda tenho que permanecer aqui, nem permite que eu faça uma remissão de pena. O Código Penal e a Carta Magna foram rasgados. Me ajudem, por favor!
Será que o juiz de toda a Terra não fará justiça? (Gn 18,25) ”


1 comentário