AUTOEXÍLIO NA ESPERA DA JUSTIÇA

Ana Maria Cemin – Jornalista – 14/06/2024

O preso político Thiago Teles de Toledo, 38 anos, deixou o Brasil. Ele não percebeu qualquer possibilidade de ter a sua voz ouvida pela justiça brasileira. Se manteve em expectativa até um mês e pouco atrás. Esperava por um milagre que o livrasse da condenação de 14 anos na condição de preso político. Viu que não existe ambiente democrático para isso.  

Antes de ir embora, abandonando a sua bem-sucedida carreira de motorista de aplicativo, com mais de 20 mil corridas só no Uber, Toledo organizou a vida das três filhas: Débora, de 16 anos, ficou aos cuidados do avô materno Marcos Vianei, na Bahia; e Emanuely, de 9 anos, e Lunna, de 7 anos, ficaram com a vó paterna Vera Lúcia, no Distrito Federal. Agora só tem contato virtual com as pequenas.

Desde que foi para outro país, vive com alguma reserva que tinha. Precisa aprender um pouco do idioma para poder voltar a trabalhar. Também depende de a imigração aceitar a sua permanência, mas está confiante que haverá o acolhimento.

 A princípio, pensa que poderá fazer o serviço de entregador, usando bicicleta como meio de transporte. Será o recomeço, num lugar onde tudo é novidade. Sem querer demonstrar abalo, ele diz que está fazendo uma “visita forçada”, como se o 8 de janeiro estivesse proporcionando uma oportunidade de conhecer algo além do São Sebastião, no Distrito Federal, onde morava.

O 8 DE JANEIRO DE THIAGO

Em 8 de janeiro de 2023, Thiago fazia corrida de aplicativo, mas estava curioso para ver o movimento na Praça dos Três Poderes. Desde a conclusão da eleição de 2022 e com a instalação do movimento popular em frente aos quartéis, ele tinha o hábito de passar quase que diariamente no QG de Brasília.

Cedeu à tentação e foi para a Praça, aonde chegou entre 15h30 e 16h. “Cheguei atrasado na manifestação, porque as pessoas desceram bem antes. Não quebrei nada e ninguém fez imagem minha no local. Não há nada contra mim, mesmo assim o Supremo Tribunal Federal (STF) me atribuiu cinco crimes por ter estado no local”, conta.

Thiago não entende se as conversas de WhatsApp podem o ter incriminado, mas nem isso justifica. “Eu não conhecia as pessoas que estavam na praça, portanto nada poderia ser tramado contra a ordem pública. Nós não fazíamos parte de um grupo, tudo era espontâneo. Entrei no Planalto e não encostei em absolutamente nada. Lá no gramado eu tinha passado mal por não conseguir respirar devido ao gás. Cheguei a cair no chão com a respiração ofegante e fui socorrido por um manifestante com água para jogar no rosto. Entrar no Planalto foi uma decisão minha e já estava depredado quando cheguei. As pessoas no interior do prédio estavam quietas, sentadas e orando. Me juntei a elas até sermos presos elevados aos presídios”, relata.

“Eu e a minha família passamos por muitas dificuldades no tempo em que fiquei preso. Meus amigos do futebol fizeram uma vaquinha para ajudar os meus familiares e isso foi muito importante para a minha vida. Serei eternamente grato pela iniciativa”.

A VOLTA PARA CASA COM TORNOZELEIRA

Em 9 de agosto de 2023, Thiago recebeu a liberdade provisória e voltou para casa com tornozeleira eletrônica e restrições, dentre elas foi proibido de sair à noite e nos finais de semana. Só poderia ficar dentro de casa. Justamente nesses períodos o valor das corridas de aplicativo era mais rentável, mas não teve outro caminho a não ser se adequar a nova realidade para não voltar ao Presídio Papuda.

Em dezembro, no entanto, resolveu arriscar e trabalhou fora dos horários estabelecidos pelo STF, mas por “um milagre” não foi registrado o descumprimento das cautelares e a vida seguiu, com ele voltando a cumprir as regras. “Todas as minhas saídas são justificáveis, por motivo de trabalho”, justifica.

CONDENADO EM 22 DE MARÇO DE 2024

A conclusão do julgamento virtual de Thiago ocorreu em 22 de março e, no dia seguinte, soube da condenação dos 14 anos de prisão. “Eu acompanho a política e entendi que era o momento de partir do Brasil. Um deputado está preso, o Daniel Silveira. Mais de 100 pessoas estão em presídios brasileiros por crime de opinião. Enquanto esse sistema vigorar, não há como ter justiça. Por isso, decidi buscar refúgio em outro país. E aqui estou, tentando reorganizar a vida”, relata.

VIDA NOVA EM OUTRO PAÍS

“Moro com outras pessoas num apartamento com alguns poucos eletrodomésticos e consegui comprar um colchão. Aqui cada um tem uma realidade financeira, emocional e familiar diferente. Eu me mantenho forte, mesmo que por dentro eu esteja destruído. Quando me prenderam no Papuda, eu tinha certeza de que iria morrer lá dentro, pelas condições absurdas a que formos submetidos. Considero um milagre estar vivo. Por outro lado, aprendi muito sobre ter empatia e a perdoar. Eu não tenho mágoa nem mesmo de Lula e Moraes, porque eles fazem parte de um sistema que está muito além deles, ao ponto de que eles não podem retroceder nessas ações erradas que tomaram. Estão acabando com a Nação Brasileira e isso precisa parar. Se isso não acontecer, não tem como voltar para a minha Pátria”, conclui.

“O Alexandre de Moraes não foi eleito pelo povo e ficará por décadas no cargo de ministro do STF, mandando e desmandando no País. E ainda alega lutar pela democracia. A mim ele não engana. Ele enrola somente aqueles que não raciocinam”. Thiago Teles