Por Ana Maria Cemin – Jornalista
19/01/2023 – (54) 99133 7567
Em 29 de outubro de 2023, o preso político Antônio Marques da Silva, 49 anos, faleceu ao cair de um telhado que ele consertava. Fazia um “bico” para sustentar a família, porque depois de ficar preso durante 19 dias no Presídio Papuda, pelo fato de estar acampado no dia 9 de janeiro no QG em frente ao quartel, não conseguiu mais emprego.
Ele era operador de máquina de terraplanagem há pelo menos 15 anos e as obras nas quais atuava eram de pavimentação de rodovias. Sua condição de liberdade provisória, com uso de tornozeleira eletrônica e obrigatoriedade de comparecer no fórum todas as segundas-feiras, foi uma barreira para a volta à vida normal de trabalho, como funcionário.
“Quem vai pensar que uma pessoa que trabalha com máquinas desde os 20 anos vai cair de um telhado?”, diz a esposa Simone Leandro da Silva, 36 anos, desconsolada.
“Antônio não merecia ter caído no esquecimento. Era um ótimo marido, muito prestativo, sempre correu atrás para que nada faltasse aqui em casa. Foi um bom pai para os seus sete filhos. Ele foi a Brasília reforçar o movimento no início do ano passado, por entender que era importante lutar pelos direitos da família e de um Brasil livre”, desabafa.
MORTE EM ANONIMATO
A comoção com a morte de Antônio não existiu praticamente dentro do movimento dos conservadores, porque não ocorreu dentro de um presídio, como foi o caso do falecimento de Cleriston Pereira da Cunha, 46 anos.
Clezão, como era conhecido, tinha um pedido de revogação de prisão da Procuradoria Geral da República, assinado pelo subprocurador Geral da República, Frederico Santos. No entanto, o Supremo Tribunal Federal desconsiderou e o manteve dentro do Papuda e ele veio a óbito no dia 20 de novembro, no pátio do estabelecimento prisional.
Antônio não ficou tanto tempo no cárcere, mas também estava preso, só que de forma domiciliar. A liberdade provisória exige uma série de restrições à vida normal e foi nessas condições limitantes que a fatalidade ocorreu, deixando a sua família enlutada e com dificuldades financeiras.
Antônio teve dois filhos com Simone: Leo, 12 anos, e Bernardo, 4 anos. A família reside em casa própria em Barra do Garças, município do Mato Grosso, porém o terreno ainda está financiado. “Antônio pagava R$ 1.000,00 por mês do terreno, mas eu estou pagando o que consigo com a ajuda dos familiares do meu marido e da ASFAV”, diz Simone, que é dona de casa e cuida dos filhos.
“O meu marido era provedor e, com a sua morte, ficamos desamparados. Mesmo com ele não tendo um trabalho formal em 2023, devido à prisão domiciliar, ele se virava muito bem”, diz a esposa do falecido.
Simone conta que a vida de Antônio não foi nada fácil depois que foi solto, até porque trabalhar com máquinas de terraplanagem exige a liberdade de ir para longe do local onde mora.
“Com a morte do Antônio, os sonhos acabaram e estou sem esperança”, diz a viúva de um dos 1,5 mil presos políticos do Estado Brasileiro.
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