Ana Maria Cemin – Jornalista
Por um ano, Maxcione Pitangui de Abreu, mais conhecido como Max, foi envolvido numa trama policial, com requintes tupiniquins hilários (se não fossem trágicos), criada pela cúpula do Ministério Público capixaba, em conluio com membros do Governo do Espírito Santo. Essas duas estruturas estão corroídas pelo sistema de corrução denunciado pelo radialista e por outras pessoas que acabaram presas no Espírito Santo em dezembro de 2022, conforme ele relata.
A desventura de Max começou com o lobby feito pela Procuradora Geral de Justiça do MP do Espírito Santo, Luciana Gomes Ferreira de Andrade, junto ao senador Marcos do Val, para convencer o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, a aceitar uma petição direta dela no inquérito dos atos antidemocráticos, por fora da Procuradoria Geral da República (PGR), o que é contra a lei.
Max não conhecia pessoalmente o jornalista Jackson Rangel Vieira, profissional com 40 anos de carreira que protagonizou a denúncia no Estado do Espírito Santo. O que o radialista fez foi traduzir em linguagem popular os fatos que para a maioria da população poderiam ser complexos. Usou do humor, designando o apelido jocoso à procuradora de “Peppa do Mal”, assim como criou apelidos para outros atores da trama, mas sempre seguindo a linha investigativa do jornalista capixaba renomado.
“A procuradora queria prender Max e outras pessoas, mas não conseguiu convencer a PGR, que se negou a fazer os pedidos. A intenção da procuradora capixaba era usar o ambiente de anormalidade institucional do País para travar o progresso das denúncias que estavam afetando agentes do governo estadual e ela própria. Essa trama teria sido montada por ela com seu staff sob um pretexto cínico de defesa da democracia e combate a atos antidemocráticos, disfarçando os propósitos de polícia política.” – relata o advogado de defesa Gabriel Coimbra.
Em sua petição direta ao ministro Moraes, a procuradora produz uma narrativa que mistura pessoas sem relação, segundo Max revela, como se fossem uma organização, para imprimir um contorno de extrema direita radical e, assim, entrar pela janela do inquérito dos atos antidemocráticos.
TÓFFOLI E ABI IMPEDIRAM O AVANÇO DO INQUÉRITO NO ES
No Espírito Santo, a procuradora Luciana não teve sucesso em produzir inquérito policial de conteúdo idêntico, a ponto de ver o procedimento requisitado por ela localmente ser suspenso pelo Ministro Dias Tóffoli em uma ação da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no STF (Reclamação 47.792), quando havia normalidade constitucional no País.
No insucesso em avançar sobre seus alvos, a procuradora e seu staff recortaram o conteúdo desse inquérito policial suspenso e incluíram outras pessoas que, de fato, participaram de manifestações e acampamentos em quartéis, sem nenhuma relação direta com Max e os outros que acabaram presos, para justificar a petição direta ao ministro Alexandre de Moraes.
“Essa manobra foi detectada por um dos pareceres da PGR, que apontou, dentre outros abusos de autoridade, a violação ao princípio do “no bis in idem”, inerente à construção do direito penal, de base filosófica, que impede uma pessoa de ser processada ou punida em dois procedimentos pelo mesmo fato. A PGR denunciou a procuradora Geral de Justiça do Ministério Público do Espírito Santo por fraude processual no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), mas não se sabe em que pé está a investigação”, relata o advogado que defende Max.
De acordo com o radialista, a sujeira que estava aparecendo em 2022 afetava também o pai do senador citado, médico anestesista, em ocorrências envolvendo sua empresa no desvio de milhões de recursos destinados ao Estado para o controle e tratamento do Covid, especificamente na venda de ventiladores pulmonares. Essa investigação nasceu e morreu sem ninguém saber detalhes.
MAX É PROVEDOR DO LAR
Max tem 41 anos e é pai de quatro filhos: uma moça de 20 anos do primeiro casamento e três crianças da sua união com Ellen. O filho de 7 anos do casal, o Miguel, tem inúmeros problemas de saúde: nasceu de cinco meses, alimenta-se por sonda, sofre de displasia pulmonar e deficiências intelectual e motora. Até pouco tempo respirava por traqueostomia. Portanto, Ellen deixou seu trabalho de enfermagem em hospital e passou a dedicar-se aos filhos, enquanto Max mantém a casa com seu trabalho como repórter de rádio e atividades de publicitário.
Mantinha, porque em 15 de dezembro de 2022 foi expedido o mandado de prisão de Max pelo Supremo Tribunal Federal, o colocando como participante de atos antidemocráticos, agressor do Estado Democrático de Direito, formação de quadrilha etc. Foi jogado dentro de um saco de gatos de um Brasil justiceiro, no qual qualquer um cabia mesmo não tendo participado de nenhuma manifestação em frente aos quartéis, nem fechamento de rodovias nem qualquer outro apontado como ato antidemocrático.
Max sempre focou em outra demanda: as denúncias de corrupção contra agentes do governo estadual e a cúpula do Ministério Público capixaba que os protegia, por ação e omissão, arquivando sumariamente denúncias e perseguindo denunciantes. Mesmo assim, sem eira nem beira, Max passou a ser perseguido pela Polícia Federal numa operação criada após o sequestro do índio Sererê no dia 12 de dezembro de 2022 pela própria PF e que gerou queima de ônibus, lixeiras e veículos em frente à Sede Administrativa da Polícia Federal em Brasília. A culpa pela depredação foi atribuída aos manifestantes acampados no QG da capital federal e muitas pessoas foram levadas ao presídio por conta daquele acontecimento. Ficaram meses presas sem o devido processo legal.
MAX FUGIU PARA SE DEFENDER
Na história de Max, as manifestações verde-amarelas entram apenas para situar a razão encontrada pelo Estado Brasileiro para prender o repórter Max e jogá-lo na prisão. De novo: conforme ele informa, não foi a nenhum QG para se manifestar e nem conhece Brasília. Foi um teatro criado para parar o processo de denúncias públicas contra a cúpula do Ministério Público Capixaba, comandada por Luciana, e o governo do Espírito Santo, Renato Casagrande, que é do PSB, mesmo partido do Ministro Flávio Dino.
Diferente dos outros denunciados, Max não esperou ser preso, porque entendeu que se fosse jogado numa cela no Espírito Santo não teria chance de provar a sua inocência. Aliás, me conta que nem mesmo mantinha relacionamento com os outros presos do dia 15 de dezembro de 2022. Ele preferiu ser um fugitivo da PF, por razões que ele explica na entrevista que fiz com ele (Parte 2 dessa matéria), e só foi preso em 14 de setembro de 2023 na Ciudade del Este, Paraguai, pela Interpol Paraguaia.
IMPRENSA FOI CHAMADA PARA REGISTRAR A PRISÃO
Na ocasião, a imprensa estava toda presente – CNN, Globo, Bandeirantes e outras – para dar IBOPE ao ministro Flávio Dino (lembrando: do mesmo partido do atual Governador do Espírito Santo) que anunciava a prisão de “golpistas” numa ação conjunta entre Interpol e Polícia Federal, outra falácia como veremos na entrevista com Max. De lá, Max foi para o Presídio Papuda onde conheceu os patriotas presos em 8 de janeiro e pela qual se afeiçoou.
Deste momento em diante Max conseguiu corrigir a rota de sua vida, tendo acesso a um delegado de polícia que entendeu quem ele era e o motivo da prisão de pessoas inocentes no Espírito Santo. Mesmo diante de tanta resistência de Alexandre de Moraes, não foi possível mantê-lo preso e no dia 19 de dezembro, depois de um ano da ordem de detenção, ele voltou para casa, assim como os outros presos que foram detidos no Espírito Santo pelo mesmo motivo. Estes últimos ficaram jogados 12 meses em um presídio capixaba sem nem sequer serem ouvidos. Esta é uma saga, que não pode ser descrita com poucas palavras, então vou deixar o Max nos contar e provar no pingue-pongue que publicaremos como Parte 2 desse relato.
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