Ana Maria Cemin – 11/11/2025
No dia 7 de novembro, entrevistei o exilado Symon Filipe de Castro Albino, um pastor da Igreja Novo Templo de 34 anos, que ganhou notoriedade após interromper um evento no qual o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, compunha a mesa.
Conversei com ele para entender o que faz alguém ameaçado pelo Estado Brasileiro romper a barreira do medo e ir ao encontro de seu algoz?
Esse pai de quatro filhos, com idades de 5, 8, 10 e 12 anos, não abraça as suas crianças desde 4 de janeiro de 2023. Uma dor difícil de ser administrada pela família.
Essa informação respondeu minha pergunta e agora quero que você o conheça por meio desse relato.
O fato ocorreu no segundo dia do 1º Fórum de Buenos Aires, realizado de 5 a 7 de novembro na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires. Albino aguardou o momento certo para fazer o pedido de justiça aos presos do 8 de janeiro. O fez com educação. O ministro que, minutos antes tinha posado numa foto com Albino, não se pronunciou sobre a fala do exilado, mas (pelo menos) autorizou que falasse.
Era por volta das 19h do dia 6 de novembro. Após se levantar e discursar brevemente, Albino deixou o auditório por vontade própria, porém foi seguido por seguranças ligados ao ministro Gilmar Mendes. Segundo relato do exilado, antes de começar a filmar, ainda no auditório, os agentes tentaram intimidá-lo com ameaças verbais. Ao iniciar a gravação, os seguranças cessaram as agressões.
A participação no fórum foi como inscrito e assistiu às palestras. Albino enfatiza que, apesar de ser acusado pela esquerda de ser “terrorista”, circulou livremente no evento, sem qualquer barreira de segurança. Mesmo para fazer a sua fala espontânea, pediu autorização e agradeceu a Gilmar Mendes por permitir ao sinalizar positivamente com a cabeça em resposta à frase: “Se estamos numa democracia, posso falar?”.
Albino talvez se referisse à democracia da Argentina…
“Fiquei surpreso ao ser ouvido sem interrupções. Apesar do ministro Gilmar Mendes não falar nada e nem repreender, eu temia ser preso. O medo não me impediu de me manifestar e de exercer meu direito à liberdade de expressão”, afirma.
Lembrando: Albino será julgado na Primeira Turma do STF de 14 a 25 desse mês e provavelmente será condenado a pelo menos 14 anos de prisão como os demais manifestantes acusados de 5 crimes. Junto, poderá ocorrer um pedido de extradição do Governo Brasileiro. Não foi pouca coragem envolvida no ato.
Essa ideia de chamar a atenção para o problema dos presos políticos foi construída em conjunto com outros três exilados: Claudiomiro da Rosa Soares, Daniel Luciano Bressan e o cantor sertanejo Paulistano.
QUEM É SYMON POR ELE MESMO
“Atualmente sou réu pelos atos de 8 de janeiro. Não fui condenado, mas desde fevereiro de 2023 tenho um mandado de prisão aberto, então sou considerado foragido. Minha participação nos atos começou em Campinas, SP, onde fiquei cerca de 70 dias no QG local. Fui a Brasília no dia 5.01.2023. Em 8.01, após os acontecimentos, fui embora para outro estado, não o meu, onde fiquei escondido dentro do País.
Não me exilei por vontade própria e, sim, saí do Brasil quando percebi que seria preso. Antes, porém, fiquei escondido por um ano e sete meses em uma chácara.
Antes de sair do Brasil, eu trabalhava como chefe de cozinha e adestrador de cães. Mesmo escondido, consegui ajudar financeiramente meus filhos por um tempo, trabalhando em uma pousada numa ilha. Mas desde que cheguei à Argentina, não consegui mais enviar pensão.
Tentei abrir um restaurante aqui, mas fechei por causa da crise. Hoje trabalho em um açougue, ganho cerca de R$ 1.400,00 por mês, dos quais R$ 1.000,00 vão para o aluguel. O restante mal cobre as despesas básicas. Meus filhos vivem com a mãe, que depende do Bolsa Família e de uma ajuda de R$ 350,00 mensais do Instituto Gritos de Liberdade.
Tenho DNI argentino e dei entrada no pedido de refúgio, mas não dei prosseguimento ao processo porque vi que outros estavam sendo presos. Agora, com o julgamento marcado para o dia 14, sei que a condenação é praticamente certa. Temo que, após isso, comecem a me buscar para extradição, o que pode me impedir até de continuar trabalhando.”
Para qualquer ser humano normal, que não foi afetado mentalmente pelas propagandas enganosas, a situação de Symon Albino e sua família é caso de anistia humanitária. Não é possível admitir que pessoas comuns, sem antecedentes criminais, sejam transformadas do dia para a noite em criminosos perigosos, tratados de forma mais rigorosa do que criminosos reais – bandidos que roubam, assassinos, abusadores sexuais, traficantes e organizações que desviam recursos da Nação brasileira.
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