 
Ana Maria Cemin – 30/10/2025
Quando escrevo ou falo em entrevistas que os manifestantes do 8 de janeiro estão abandonados é por ter convicção do que digo. Caso não fosse assim, o drama vivido por Charles Rodrigues dos Santos, 44 anos, teria sido solucionado por algum patriota de Brasília, capaz de dar um trabalho para que ele pudesse cumprir sua pena em semiaberto. O caso dele é o retrato de uma ferida aberta no coração de milhares de famílias brasileiras, totalmente desamparadas desde que o Estado Brasileiro se voltou contra manifestantes os chamando de terroristas e os prendendo como se fossem de fato perigosos, coisa que até mesmo líderes da esquerda têm se manifestado publicamente afirmando que nunca houve golpe e que, no máximo, quem depredou os prédios foram baderneiros. Eu concordo 100% com isso.
Sem prova alguma de que Charles participou de alguma depredação em 8 de janeiro, Charles foi condenado a 13 anos e 6 meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), vive no presídio Papuda desde o dia 8 de janeiro, porém teve sua progressão de regime autorizada em 19 de agosto de 2025. No papel, ele deveria estar em regime semiaberto. Na prática, continua trancado em cela comum, agora separado dos demais manifestantes e colocado ao lado de criminosos de alta periculosidade, num outro bloco. Ele segue trabalhando dentro do presídio, como sempre fez, por não ter trabalho externo. Alguém de Brasília poderia conseguir trabalho para o capixaba? Eis a questão!
A decisão do ministro Alexandre de Moraes de passar para o semiaberto foi pelo reconhecimento de que Charles cumpriu os requisitos legais para a progressão: 1.113 dias de pena somados a 254 dias remidos por estudo, trabalho e leitura, totalizando 1.357 dias. }Aliás, número superior ao mínimo exigido de 1.232 dias.
Sem trabalho disponível, Charles permanece em regime fechado, em um pavilhão onde divide espaço com detentos condenados por crimes violentos. A mudança de ala, longe dos demais presos do 8 de janeiro, agravou seu sofrimento. Segundo relatos de seu pai, Raimundo José dos Santos, de 66 anos, Charles chora com frequência e demonstra sinais de desespero. “Ele não suporta mais essa condição. Está isolado, cercado por criminosos de verdade. Isso é tortura psicológica”, denuncia Raimundo.
O pedreiro capixaba, que mora em Serra, ES, percorre mais de 48 horas de ônibus a cada visita ao filho na Papuda. Gasta mais de R$ 700 por viagem e perde duas semanas de trabalho por mês. Mesmo assim, não deixa de ir. “Levo o abraço, o consolo, e digo que aqui fora todos esperam por ele. Mas está cada vez mais difícil ver meu filho naquela situação”, desabafa.
Charles foi preso em 9 de janeiro de 2023, após aceitar um convite para participar de uma corrente de oração em Brasília. Trabalhava com o pai em uma obra em Vitória e, segundo Raimundo, nunca teve envolvimento político. “Ele foi comprar um pastel perto do QG dos patriotas e voltou dizendo que o ônibus era de graça. Disse que voltaria na terça-feira para trabalhar comigo. Nunca mais voltou.”
A família, que mantinha um projeto social chamado Anjos da Rua, distribuindo 150 marmitas por semana a moradores de rua, teve que interromper as atividades. O carro usado para a ação social era de Charles. “Vi meu filho dar a própria coberta para um morador de rua. Ele tem um coração bom. E agora está sendo tratado como se fosse um criminoso perigoso”, lamenta o pai.
A condenação de Charles incluiu, além da pena de prisão, 100 dias-multa e o pagamento de R$ 30 milhões em danos morais coletivos, de forma solidária com outros réus. A cifra é considerada impagável por famílias humildes como a de Raimundo, que sobrevive com pouco mais de um salário-mínimo.
A situação de Charles não é isolada. Diversos manifestantes presos em 8 de janeiro enfrentam condições semelhantes. Muitos foram surpreendidos por uma repressão violenta e prisões em massa, sem distinção entre quem depredou e quem apenas estava presente. “Eles foram para uma manifestação e encontraram uma guerra. Estão pagando penas altíssimas por crimes que não cometeram”, afirma Raimundo.




CONDENADO A 14 ANOS DE PRISÃO
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