
Ana Maria Cemin – 12.09.2025
O julgamento da Ação Penal 2.668 pelo Supremo Tribunal Federal não foi apenas uma decisão jurídica — foi um divisor de águas na história política e institucional do país. O STF condenou oito pessoas por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e outros crimes conexos no dia de ontem.
- Jair Bolsonaro: 27 anos e 3 meses de prisão
- Walter Braga Netto: 26 anos
- Anderson Torres: 24 anos
- Almir Garnier Santos: 24 anos
- Augusto Heleno Ribeiro Pereira: 21 anos
- Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira: 19 anos
- Alexandre Ramagem Rodrigues: 16 anos, 1 mês e 15 dias
- Mauro Cesar Barbosa Cid: 2 anos (regime aberto, por colaboração premiada)
A condenação não se limitou à esfera penal. Ela representa a destruição pública e simbólica de suas carreiras. O próximo capítulo será escrito pelo Superior Tribunal Militar, que deverá completar o serviço: banir esses homens dos quadros das Forças Armadas, apagar seus nomes das galerias de honra, retirar medalhas, méritos e qualquer vestígio de reconhecimento. A exclusão será total — não apenas física, mas histórica.
E o processo já começou. O suboficial da Marinha Marco Antônio Braga Caldas tornou-se o primeiro militar oficialmente expulso das Forças Armadas por participação da manifestação de 8 de Janeiro. Condenado a 14 anos de prisão, ele cumpre pena em unidade militar — mesmo após laudos periciais indicarem que não participou diretamente dos crimes pelos quais foi responsabilizado. Sem protagonismo, sem comando, sem poder político, Marco foi escolhido como exemplo. Um bode expiatório institucional.
Enquanto isso, o único que permanece “intacto” é o delator. Aquele que, em troca de benefícios, colaborou com a acusação e teve sua pena reduzida a dois anos em regime aberto. Nenhuma perda de cargo, nenhuma inelegibilidade, nenhum ônus político. O sistema o protege, o exalta, o transforma em peça-chave da narrativa oficial.
Mas qual é o mérito de tudo isso?
O que se vê é um país onde o protesto virou crime, onde a oposição é tratada como ameaça existencial. O direito de divergir, de se manifestar, de contestar decisões políticas — pilares de qualquer democracia — foram confundidos com tentativa de golpe. A fronteira entre crítica e subversão foi apagada. E quem ousou cruzá-la, mesmo que por convicção política, foi arrastado para o tribunal.
Esse Brasil que emerge da decisão do STF é um Brasil onde o dissenso é punido, onde o militar que ousa pensar fora da cartilha é silenciado, onde o político que representa uma parcela significativa da população é tratado como inimigo do Estado. É um Brasil que parece ter esquecido que a democracia não é feita apenas de governo — mas também de oposição.
Se o objetivo era restaurar a ordem, o efeito pode ser o oposto: aprofundar a divisão, alimentar o ressentimento, e transformar o sistema de justiça em palco de disputas ideológicas. O país precisa de equilíbrio, não de expurgos. Precisa de reconciliação, não de vingança institucional.
Porque no fim, o que está em jogo não é apenas a vida pública de alguns militares — é a saúde da democracia brasileira e ela se dará pela anistia, cedo ou tarde.
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