
Ana Maria Cemin – 31.07.2025
O preço que o ministro Alexandre de Moraes paga ao ser enquadrado pela Lei Magnitsky — que o incluiu entre os indivíduos envolvidos em violações de direitos humanos — não chega perto da dor que ele causa a milhares de brasileiros com vidas destruídas. Moraes teve o visto revogado, bens congelados e está proibido de negociar com empresas americanas. Mas como vivem hoje os brasileiros que ele mandou prender por se posicionarem à direita? Aqui falamos de apenas quatro mulheres, entre milhares de vítimas do 8 de janeiro: Cristiane, Rosana, Michely e Raquel.
Em janeiro deste ano, essas quatro brasileiras cruzaram a fronteira do México rumo aos Estados Unidos, carregando não apenas mochilas com poucos pertences, mas também o peso de decisões políticas tomadas a milhares de quilômetros dali. Trabalhadoras, mães e cidadãs sem histórico criminal, buscavam refúgio em solo americano após sofrerem medidas severas impostas pelo sistema judiciário brasileiro, motivadas pelos eventos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília.
CRISTIANE DA SILVA: DO PROTESTO À DEPORTAÇÃO
Natural de Balneário Camboriú (SC), Cristiane, 33 anos, trabalhava num pequeno comércio em sua cidade. Participou da manifestação em Brasília, inicialmente pacífica, e acabou enquadrada pelo Supremo Tribunal Federal por incitação ao crime e associação criminosa.
Antes de ser condenada com medidas alternativas — como curso sobre democracia e prestação de serviços comunitários — Cristiane, assustada e com medo de voltar ao presídio, rompeu a tornozeleira eletrônica e decidiu buscar asilo nos EUA. Entrou pela fronteira mexicana na esperança de reconstruir sua vida. Com as mudanças na legislação migratória americana, seu pedido foi negado.
Em maio de 2025, foi deportada, presa ao desembarcar em Fortaleza e levada a um presídio onde se encontra até hoje. Desde então, aguarda transferência para Santa Catarina, onde cumprirá pena em regime semiaberto. Está longe da família e da terra que conhece. As condições de sua detenção permanecem desconhecidas.
RAQUEL DE SOUZA LOPES: UMA AVÓ DETIDA EM SOLO ESTRANGEIRO
Aos 52 anos, mãe de dois filhos e avó de dois netos, a cozinheira Raquel, de Joinville (SC), participou das manifestações em Brasília para expressar sua indignação política. Não imaginava que seria condenada a 17 anos por depredação do patrimônio público.
Sem antecedentes criminais e com uma vida pautada pelo trabalho árduo, cruzou a fronteira mexicana confiando que sua situação seria compreendida pelas autoridades americanas. Mas não foi o que aconteceu. Detida no centro de El Valle, no Texas, teve o pedido de asilo negado pela justiça americana e continua presa sob condições administrativas, aguardando uma deportação iminente. Sua família, no Brasil, vive dias de aflição.
MICHELY PAIVA ALVES E ROSANA MACIEL GOMES: ESPERANÇA ADIADA
Michely, empresária de Limeira (SP), organizou a ida de um grupo de manifestantes a Brasília, mas nega ter incitado violência. Foi considerada “líder golpista” e responde a cinco acusações. Já Rosana, de Goiânia (GO), foi condenada a 14 anos.
Ambas buscaram refúgio nos EUA após punições severas do STF e estão presas. A deportação de Rosana está em curso, mas ainda não há confirmação oficial de sua chegada ao Brasil.
VOZES SILENCIADAS
Essas mulheres são mais do que números em processos judiciais. Representam o impacto de um sistema que pode ser implacável com cidadãos comuns. Mães, avós, trabalhadoras viram suas vidas destruídas ao se envolverem em um episódio político ainda não explicado.
Quem depredou os prédios da República? Com qual intenção? Onde estão as provas concretas?
Elas foram a uma manifestação pacífica — como é típico dos movimentos de direita.
Não foram acusadas de roubo ou agressão. Seu maior “crime”, segundo a versão oficial, foi estar no lugar errado, na hora errada, defendendo ideias que hoje são tratadas como ameaça institucional.
UMA TRAVESSIA MARCADA POR ESPERANÇA
Ao entrar nos EUA pelo México, essas mulheres acreditavam que seriam acolhidas sob regras de asilo político. Mas, com a virada na política migratória exatamente no começo desse ano e o endurecimento das entrevistas na fronteira, o sonho virou uma longa espera em centros de detenção, com pouca chance de serem ouvidas com justiça.
O retorno forçado ao Brasil representa não apenas a perda da liberdade, mas a convivência em presídios com criminosas efetivamente perigosas para a sociedade.
As histórias dessas brasileiras são um alerta para o impacto que decisões judiciais, políticas migratórias e crises institucionais podem ter sobre pessoas comuns.
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