
Ana Maria Cemin – 11/08/2025
A advogada Mônica Amaral, defensora incansável dos presos políticos de 8 de janeiro de 2023, carrega consigo uma dor que não é só jurídica — é pessoal. Ela acompanhou de perto a trajetória de Antônio Marques da Silva, seu assistido, e até hoje se mantém ao lado da família que ele deixou. “Eu sempre fui a todas as manifestações, mas as convocadas pela anistia eu vou, especialmente, pelo meu assistido Antônio Marques da Silva, o 1° patriota a falecer usando a maldita tornozeleira”, afirma Mônica. “Faleceu ao fazer um bico porque, pelas restrições e tornozeleira, não conseguia exercer sua profissão. E por ele e todos os meus assistidos que estou nessa luta, que mesmo inglória, creio que não será em vão! Não parar! Não precipitar! Não retroceder! Desistir, não é uma opção!”
PRISÃO, TORNOZELEIRA E DIFICULDADE PARA TRABALHAR

Antônio Marques da Silva, nascido em 4 de agosto de 1974, era operador de máquina de terraplanagem em Barra do Garças, Mato Grosso. Trabalhou por mais de 15 anos em obras de pavimentação de rodovias. No dia 9 de janeiro de 2023, foi um dos 1.398 manifestantes recolhidos ao Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, por decisão do Supremo Tribunal Federal, por estar acampado em frente ao QG do Exército. Após 19 dias de prisão, foi liberado sob medidas cautelares, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica, proibição de sair da comarca, obrigação de comparecer ao fórum todas as segundas-feiras e confinamento domiciliar nos fins de semana e feriados.
Essas restrições o impediram de retomar sua profissão formal. Sem poder viajar para obras distantes, Antônio passou a fazer “bicos” para sustentar a família. Foi durante um desses trabalhos — consertando um telhado — que sofreu uma queda fatal em 29 de outubro de 2023.
FAMÍLIA DESAMPARADA
Antônio deixou a esposa, Simone Leandro da Silva, de 38 anos, e dois filhos: Bernardo, de 6 anos, e Leo, de 14. “Antônio era provedor da casa e, com sua morte, ficamos desamparados”, conta Simone. “Mesmo com ele não tendo um trabalho formal em 2023, devido à prisão domiciliar, ele se virava muito bem.” A família vive em casa própria, mas o terreno ainda está financiado.

Ela relembra com dor a trajetória do marido: “Antônio não merecia ter caído no esquecimento. Era um ótimo marido, muito prestativo, sempre correu atrás para que nada faltasse aqui em casa. Foi um bom pai para os seus sete filhos (além dos dois filhos com Simone, ele tinha outros cinco com a ex-esposa). Ele foi a Brasília reforçar o movimento no início do ano 2023, por entender que era importante lutar pelos direitos da família e de um Brasil livre.”

MORTE NO ANONIMATO
A morte de Antônio não gerou comoção dentro do movimento conservador, diferentemente do caso de Cleriston Pereira da Cunha, conhecido como Clezão, que faleceu dentro do presídio. Antônio morreu em liberdade provisória, mas ainda sob vigilância do Estado. “Quem vai pensar que uma pessoa que trabalha com máquinas desde os 20 anos vai cair de um telhado?”, lamenta Simone. “Com a morte do Antônio, os sonhos acabaram e estou sem esperança.”
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